Imagine que num mundo encantado há somente 2 tipos de bebidas: água e café.
Esse é o menu que nos disponibilizaram.
Somos felizes e satisfeitos por saber que somos livres para escolher o que queremos tomar: um copo de água ou uma xícara de café.
Só que depois de um tempo, alguém nos conta que há outras opções de bebidas no mercado. Cappuccino, chocolate quente, sucos dos mais variados sabores e o pior, por um preço bem mais em conta.
Começam as dúvidas: Por que ninguém falou antes? Por que não nos avisaram sobre a existência de outros sabores? Por qual motivo escondem isso de nós? E por que sempre nos falaram que éramos livres, dizendo que tínhamos liberdade de escolha? Só esqueceram de um detalhe: não mostravam todas as opções existentes do menu.
Isso é exatamente o que sinto, quando penso sobre política e educação, incluindo a educação financeira.
Nos fizeram acreditar de que éramos livres, mas não somos.
Na escola, nos ensinam apenas o suficiente para sermos ótimos funcionários, mas não o suficiente para pensarmos com a própria cabeça. Sabemos operar máquinas e computadores, mas não sabemos pensar, apenas repetimos o discurso de pessoas importantes (e que nem sempre, ou melhor, na maioria das vezes, não é benéfico para nós). Nunca fomos incentivados a pensar criticamente, nem a discutir política de uma forma decente, pelo contrário, nos ensinaram a jogar panos quentes para abafar problemas.
Para passar o tempo na escola, nos fizeram decorar fórmulas complexas de matemática, química e física. Quanto do que aprendeu na escola está sendo útil no seu dia-a-dia? Não poderiam ensinar economia doméstica? Sobre desenvolver habilidades em potencial? Discutir sobre propósito individual? Sobre política? Sobre a importância de ajudar o próximo?
Nos ensinaram que pessoas consumistas são bem vistas, consideradas bem sucedidas, generosas. E que pessoas frugais, que poupam dinheiro, são pessoas egoístas e de espírito pobre. Para a maioria das pessoas, não importa se a pessoa tem dívidas, o importante mesmo é gastar e movimentar a economia do país, às custas do empobrecimento da população.
Repetem a todo momento que temos que viver o hoje, gastar tudo para se divertir como não houvesse amanhã, pois “caixão não tem gaveta”.
Nos fizeram acreditar que quem poupa dinheiro é mercenário, avarento e que não aproveita a vida. Enquanto quem faz dívidas vive intensamente a vida, é o bacana da história. Esse discurso de valores invertidos possibilitou o enriquecimento dos bancos, governo e indústrias, enquanto continuamos pobres. A mídia “colabora” passando apenas notícias que nos trazem medo, insegurança, fúria.
Nos ensinaram que quem trabalha muito é esforçado, que quem está sempre sem tempo é bem visto, que quem faz hora extra e vive estressado é merecedor de respeito.
Nos ensinaram que rico é desonesto, que ricos roubam de pobres. Também nos ensinaram que temos que juntar dinheiro para comprar uma casa financiada, comprar um carro financiado e troca-lo a cada 3 anos.
Vendem a ideia de que dinheiro não traz felicidade, mas tenha certeza que a falta dele traz infelicidade, preocupação, insegurança, medo.
O que me deixa de cabelo em pé é perceber que gasto a maior parte da minha energia no trabalho, e quando volto para casa, com a energia baixa, é quando tenho as coisas mais importantes da vida para cuidar: cuidar de mim, do marido, filhos e da casa.
Chegamos em casa exaustos e não conseguimos pensar em mais nada. Olhamos através da tela da televisão, do celular, ou do computador, a vida de pessoas que nem conhecemos. Deixamos de questionar. Deixamos de lutar pelos nossos direitos. Estamos cansados demais para isso. Somos como uma bexiga murcha.
Quando estamos nessa condição, é muito fácil sofrer lavagem cerebral. Estamos frágeis.
O governo, as indústrias e as mídias sabem que é muito fácil manipular uma população ignorante e passiva, que desconhecem seus direitos. Utilizam a tecnologia para nos manterem quietos, incapazes de pensar e refletir por nós mesmos, repetindo centenas de vezes frases feitas que lemos na internet, sem ao menos refletir se serve para a nossa realidade.
Querem nos manter na ignorância, porque assim é mais fácil de nos controlar. Não querem cidadãos inteligentes que saibam dos seus deveres, principalmente seus direitos.
Nós somos sabotados a vida toda.
Já parou para pensar que o que achamos que é liberdade não condiz com a liberdade?
Deixar os filhos com febre na escola para ir trabalhar, porque o chefe não entende e não tem ninguém para ficar com eles é liberdade?
Sair para ir ao trabalho no meio de um temporal só para não chegar atrasada, e ainda permanecer com as roupas e sapatos úmidos durante todo o expediente é liberdade?
Trabalhar com gripe e febre, tomando remédio para melhorar logo, só porque “não está doente o suficiente para faltar” é liberdade?
Trabalhar por 40 anos ininterruptamente, até os 65, 70 anos de idade (ou até mais), para no final da vida receber uma aposentadoria ridícula e nós somos o povo que sorri e aplaude, nós somos o povo que concorda com quer quer nos ferrar. Como diz o economista Eduardo Moreira, nós somos a barata que defende o chinelo, a barata que defende a inseticida.
Fazemos passeatas contra o aumento de 20 centavos no transporte público, mas nos calamos quando o ex-presidente Temer perdoou uma dívida das empresas de 47,4 bilhões de reais. Sim, 47,4 BI-LHÕES. Ou quando o novo presidente está prestes a perdoar outra dívida, desta vez do agronegócio, de 17 bilhões de reais.
É a indignação seletiva. Ninguém parece se importar. Ninguém parece querer perceber.
Para os que defendem o Sistema, sempre ouço que a roda precisa girar, que essa correria tem de continuar. Afinal, como eu já ouvi dizer de uma colega, “o que faríamos com o tempo livre”?
Para pessoas que estão cansadas desse pão e circo, a independência financeira é a possibilidade de ter uma vida diferente. Uma nova vida. Uma vida sem dependências.
Muitos de vocês já estão carecas de saber o conceito da Independência Financeira: é quando a renda passiva gerada pelos seus investimentos se torna superior ao seu custo de vida mensal.
Não tenha preguiça de ser livre, não tenha preguiça de pensar.
Você ainda acha que é livre? Você realmente acha que é livre?
~ Yuka ~