Desde que descobri que estava grávida, uma coisa sempre ficou martelando na minha cabeça. Creche pública ou privada?
Durante a minha gestação, ouvi muitos comentários dos amigos e colegas que me davam “dicas” para não colocar a minha filha numa creche pública. Descaso, medo, distância da casa, flexibilidade de horário, enfim, eram vários os motivos.
Eu sabia de uma coisa: não dava para ter uma opinião de uma coisa que eu não conhecia. E por isso pedi para o meu marido fazer a inscrição assim que minha filha nasceu, em uma creche municipal do bairro, para aguardar ser chamada. A fila era longa (posição 302), e com a dúvida pairando no ar dela não ser chamada a tempo, fiz a matrícula em uma creche privada para garantir a vaga. Mas eis que após 6 meses de espera ao término da minha licença-maternidade, minha filha foi contemplada com uma vaga.
Eu e o meu marido estudamos a vida inteira em escola pública. Desde a pré-escola até a universidade. Esse fato pesou muito na hora da escolha. Outra coisa que notamos é a falta de diversidade racial nas creches particulares do bairro. Queríamos uma escola inclusiva, não uma escola somente de brancos, mas de brancos, negros, amarelos, pardos. Também queríamos estar perto de famílias de nível-social e econômico variado, pois acreditamos que conviver com as diferenças é um grande começo para ter mais paciência e tolerância com o próximo.
Para a minha filha que não terá festa em buffet, não terá presentes caros, nem usará roupas de marca, estar inserida na creche municipal será fundamental para não criar um ambiente de ostentação e inveja, pois é difícil explicar para uma criança porque a amiguinha dela tem uma Barbie de R$300,00 e ela não; porque a amiga foi pra Disney e ela não.
E para quem ainda tem dúvidas (ou medo) de uma creche municipal, segue a comparação:
1.) Minha filha tem uma pele extremamente sensível. Um xixi mal limpo e logo dá uma bela de uma assadura, mas ela nunca teve assaduras na creche.
2.) A mochila dela volta todos os dias com 2 a 3 peças de roupas trocadas. E todas ainda estão cheirosas, somente um pouco suadas, ou seja, não deixam ela com roupa suada o dia todo.
3.) Todas as professoras têm curso superior e são formadas em pedagogia.
4.) Uma mãe estava oferecendo uma bolacha recheada para seu filho de 4 meses e resolveu oferecer para outra criança que estava olhando. A coordenadora pedagógica pegou a bolacha das duas crianças e falou que naquela creche, este tipo de alimento não era permitido.
5.) Outro dia meu marido foi buscá-la um pouco mais cedo e viu uma das professoras de peruca azul, óculos de maluca, batucando um tamborim para entreter os bebês de 4 a 10 meses, enquanto as outras professoras alimentavam os bebês. O esforço de todas as professoras é nítido e emociona qualquer pessoa.
6.) Também quando eu já estava deixando a minha filha na creche e indo embora, vi de relance a professora segurando a minha filha no colo e beijando a cabecinha dela. Não preciso nem falar como isso aqueceu o meu coração. Há creches particulares que visitei que se orgulhavam de não segurar os bebês no colo, mas nesta creche em que minha filha está matriculada, dão colo, abraço, beijos…
7.) Os bebês dormem em colchonetes, no lençolzinho dela que levo de casa semanalmente.
8.) Bebês que tiverem no máximo 2 faltas o mês recebem 5 latas de 400g (o que dá 2 kg) de leite em pó Nestogena (Nestlé) todos os meses.
9.) Têm 5 refeições por dia, com cardápio super variado de legumes, verduras e frutas, tendo inclusive acompanhamento nutricional. Não preciso levar leite, nem nenhum tipo de comida na creche.
10.) Após a aprovação da lei 16.140/2015, escolas e creches municipais de São Paulo estão começando a receber produtos orgânicos na merenda escolar.
Eu cheguei a visitar várias creches particulares. E a que eu fiz a matrícula a comida era natural, mas não era orgânica. O almoço e jantar eram incluídos, mas precisava levar o leite, as frutas, os lanchinhos. Na verdade, tinha que levar tudo, desde a mamadeira, copo de treinamento, brinquedos, até pano perfex, álcool em gel, caneta para tecido e retroprojetor, etc. E ainda teria que pagar uma mensalidade de R$1.500,00. Todas as creches que pesquisei na região onde moro estavam nesta faixa: entre R$1.300,00 a R$1.700,00 o período integral.
Depois que descobri que a fama ruim de uma creche municipal era preconceito das pessoas, fico pensando no interesse político por trás de todo o movimento para denegrir a imagem de uma creche e uma escola gratuita. Quem definiu que somente escola paga é escola boa?
Se você ainda tem dúvidas ou medo de uma creche pública, um conselho que dou é: não tenha pré-conceitos e vá matricular seu filho e tire a sua própria conclusão. Acredito que há muitas creches boas, mas também muitas creches que não são boas, por isso é importante avaliar e analisar cada caso, mas tenha em mente uma coisa: o que é importante não são as paredes brancas ou o parquinho novo. O importante é ver se as crianças são bem cuidadas e se estão felizes.
~ Yuka ~