O conceito food truck, que era para oferecer comida boa a um preço camarada, virou gourmet. Duas pessoas gastam em torno de R$80,00 (lanche e refrigerante) nos food trucks espalhados pela cidade de São Paulo. E detalhe, come-se em pé.
Os apartamentos também viraram gourmet, com cozinha gourmet, varanda gourmet e espaço gourmet.
As pipocas caramelizadas e o brigadeiro gourmet com chocolate belga.
A gourmetização também chegou no café. Fico impressionada com a criatividade de adjetivos utilizados para descrever as cápsulas de café para enobrecer (e muitas vezes encarecer) o nosso café “blend de Arábicas da Colômbia finos e individualmente torrados, desenvolve uma acidez suave, com notas típicas de frutas vermelhas e vinho”…
As papinhas para bebê também viraram gourmet. Agora tem versão orgânica, light…
Apesar dos excessos de gourmetização, tento seguir o caminho contrário, valorizando a simplicidade.
Tenho um cargo de diretoria onde trabalho, mas vou ao trabalho de transporte público. Também não uso carro oficial da instituição (apesar de estar disponível) quando vou a outra filial, vou de ônibus.
Levo minha marmita todos os dias para almoçar.
Na minha sala, gosto de ficar descalça durante o expediente de trabalho.
Enquanto meus colegas usam Pandora e Vivara, me auto-denomino a “rainha da 25 de março”.
Não vejo necessidade de igualar um padrão de vida só para me encaixar no grupo ou de gourmetizar a vida só para tentar mostrar aos outros que a vida pode ser melhor que a do colega.
Vivemos um período em que muito se valoriza a gourmetização da vida cotidiana e excesso de exibicionismo ao invés da simplicidade da vida.
Se não tivéssemos a quem mostrar ou contar, será que continuaríamos comprando uma roupa cara e confortável ou pagaríamos uma roupa pela metade do preço, igualmente confortável?
Será que teríamos aquele carrão que apertou o orçamento familiar ou compraríamos um carro popular que atende a necessidade de ir e vir?
Será que continuaríamos comprando jóias se não pudéssemos mostrar para ninguém?
São perguntas que devemos fazer a nós mesmos. E podemos nos surpreender com as respostas, ao perceber que muito do que fazemos é para tentar impressionar os outros.
~ Yuka ~