Há alguns dias, recebemos a notícia de que Gugu sofreu um acidente dentro de sua casa e faleceu. Assim, de repente.
Ainda nesses dias, estava conversando com o André, do Viagem Lenta, sobre o post que ele escreveu “Como usar sabiamente o tempo? Com a mala ou com a estrada?”, e acabei comentando que eu penso muito na morte.
O motivo de eu pensar tanto na morte não é algo proposital, macabro ou até mesmo pessimista. Eu sempre fui assim. Talvez, porque lidei com a morte do meu pai precocemente, aos 3 anos de idade…
Eu sempre penso na morte, não porque quero morrer, e sim, porque eu quero viver.
Muitas pessoas não pensam na morte, não falam sobre a morte, porque é difícil a sensação de não estarmos mais aqui. Mas quando evitamos esse assunto, não nos preparamos também para morrer, e com isso, podem surgir arrependimentos.
Eu não deixo nada pra depois, porque eu não sei se eu vou ter o depois.
A vida é um cronômetro, e após meu pai ter morrido com 35 anos, tenho muita consciência de que estou tendo mais oportunidades de viver do que meu pai teve, já que tenho 38 anos. Tento aproveitar ao máximo (e isso não significa gastar dinheiro à toa), porque da mesma forma que aconteceu com o Gugu, posso não estar mais aqui daqui a 1 segundo.
E por reconhecer a finitude da vida, tenho algumas atitudes preventivas:
Fotos armazenadas na nuvem
De forma automática, todas as fotos que eu tiro do meu celular vão para o Google Fotos. Meu marido tem a senha, porque SE eu morrer, não quero levar para o túmulo as fotos da família que tanto nos emocionam, e meu marido nunca mais conseguir acessar as nossas fotos.
E passei a fazer isso, porque antes, eu armazenava as fotos no HD externo e um dia pensei que SE minha casa pegasse fogo, talvez eu voltasse para pegar o HD que estão todas as fotos da minha família. E eu não queria isso. Eu queria que a minha única preocupação fosse salvar a minha família (há diversos casos de pessoas que saíram ilesas de uma casa pegando fogo, mas acabam morrendo, porque voltam para pegar algo de valor).
Receitas culinárias armazenadas na nuvem
Apesar de achar mais fofo e prático ter um caderno de receitas, eu armazeno todas as minhas receitas aprovadas e testadas no Evernote (software que serve para organizar informações através de arquivos, notas) e compartilho a senha com o meu marido, porque SE eu morrer, não quero que minhas filhas não consigam reproduzir as receitas preferidas delas. Quando minhas filhas tiverem uns 12 anos, elas também terão a senha.
Despedidas virtuais
Meu marido tem a senha do meu blog Viver Sem Pressa, porque SE eu morrer, quero que ele venha avisar vocês o motivo de eu ter parado de escrever.
Armazenamento das senhas
Eu e meu marido temos instalado no nosso celular, o aplicativo 1Password (aplicativo que gerencia senhas em um cofre virtual criptografado e bloqueado). Todo final de ano, checamos se as nossas senhas mais importantes estão corretas. Compartilhamos senhas de e-mails, bancos, corretoras etc.
Planejamento financeiro
Eu cuido da vida financeira da minha família, porque SE eu morrer, minha família vai sentir a minha falta, mas não vai passar necessidades financeiras, como a minha mãe passou, quando ficou viúva aos 35 anos, com 3 filhas pequenas. Também sempre explico para o marido as decisões que eu tenho tomado em relação aos investimentos (o porquê de ter aumentado posição na renda variável, o porquê de não investir mais em CDBs de bancos pequenos etc), pois desta forma, acredito que SE eu morrer, ele vai continuar aplicando a mesma estratégia que eu tenho usado.
Alimentação saudável
Eu cuido da minha alimentação e da minha família, porque eu sei que SE nós continuarmos comendo muitos carboidratos e açúcares, a chance de termos doenças como diabetes, câncer e obesidade tendem a aumentar. Isso inclui aumento da ingestão de alimentos orgânicos, redução de produtos industrializados e redução de açúcar e carboidratos.
O último abraço
Trato meu marido com muito carinho, porque não quero me arrepender SE um dia ele sair de casa para trabalhar e não voltar nunca mais.
Quando minhas filhas me pedem para colocá-las para dormir, coloco para dormir (apesar de ainda ter que cozinhar a marmita do dia seguinte, limpar a casa, estudar), porque não quero me arrepender SE a última palavra que eu disser para elas forem um “não” (há algumas semanas, uma colega me falou que o melhor amigo do filho dela foi dormir no dia anterior e não acordou mais. Ele tinha 13 anos…).
O último desejo: doação de órgãos
Este item eu acrescentei depois que publiquei o post, pois apesar de ter vontade de doar os meus órgãos após a minha morte, fiquei me perguntando se meu marido sabia com clareza dessa minha vontade.
Se você for doador de órgãos, é muito importante deixar claro para a sua família, para que o seu último desejo seja respeitado.
E por fim…
Eu penso na morte a todo momento para lembrar como a vida é frágil, e que eu preciso viver de uma forma completa, feliz, sem arrependimentos.
O tempo passa rápido demais e eu preciso aproveitar a jornada da minha vida da melhor forma possível.
E sinceramente? Isso não é sobre comprar coisas, ter coisas para ostentar, viajar para lugares caros, ir em shoppings e torrar o dinheiro.
Quando digo aproveitar a vida é estar presente enquanto estou com as minhas filhas e com o meu marido. Registro mentalmente as brincadeiras que fazemos, os sorrisos, o abraço, o cheirinho, a vozinha infantil me dizendo espontaneamente “ti amu, mamã”, a sensação de ter as mãos pequenininhas em volta do meu pescoço, porque sei que essas mãos um dia vão crescer.
Outro dia, li em algum lugar a seguinte frase “o que você faria se soubesse que o mundo acabaria em 24 horas?”. A minha resposta é simples. Eu só não iria trabalhar. De resto, faria exatamente as mesmas coisas. Estaria com a minha família, preparando uma comida gostosa, abraçados no sofá até o mundo acabar.
São essas ações diárias que faço para não me arrepender. E são justamente essas pequenas ações que acabam me proporcionando uma vida com mais qualidade e toda vez que eu penso nisso, sinto que estou no caminho certo. Daí a percepção de que “coisas” são insignificantes; “pessoas” são importantes.
O post de hoje para alguns, pode soar sobre tristeza, mas não é. É sobre viver e aproveitar o tempo. É um ode à vida.
~ Yuka ~