Vejo pais que colocam os filhos em escola intensiva desde os primeiros anos escolares… A criança tem 8, 9 anos, tem que concorrer a bolsa, tem simulado aos sábados, faz cursos de idioma, de instrumento musical, esporte aos sábados e domingos, tudo para entrar entrar em uma faculdade de renome, ter um emprego invejável, comprar casa, carro e constituir uma família.
Isso é sinal de sucesso.
Não que isso seja errado, mas meu foco é outro, quando falo sobre educar minhas filhas para vencer o sistema.
Quero que elas não se iludam em comprar coisas sem necessidade.
Eu não compro tudo o que elas me pedem. Elas não têm tudo o que elas querem no momento que elas pedem. Elas entram nas lojas de brinquedo, já sabendo que não comprarei nada, se não for em datas que estipulamos antes (aniversário, dia das crianças e Natal), então elas não fazem birra, não choram, pois é algo que já entendem que o combinado não é caro.
Como elas não terão acesso a todos os brinquedos que elas gostariam de ter, a alternativa que resta para elas é escolher bem qual brinquedo vão querer ganhar. São muitas dúvidas, muitos meses fazendo escolhas e mais escolhas, até chegar no brinquedo mais desejado, e claro, que tenha até o preço teto autorizado.
Minhas filhas entram nas lojas de brinquedo com felicidade, e não com cara emburrada, com frustração. Olham os brinquedos, escolhem com cuidado, e vão me mostrando as opções que estão gostando mais. Perguntam: “esse é muito caro?”
Para mim, amar é ensina-las a enfrentar o mundo real.
Claro que há pais que possuem condições financeiras para mimar seus filhos, inclusive de bancar seus fracassos financeiros quando adulto.
Eu não tive essa opção, então sempre soube que se fizesse besteira, eu teria que arcar sozinha, o que me fez crescer com responsabilidade em relação às minhas próprias atitudes.
O sucesso do outro pode não ter o mesmo significado para mim
Quantas pessoas ditas “bem sucedidas” estão felizes de fato?
Aliás, o que é ser bem sucedido para você?
Para muitos, ser bem sucedido é ter um emprego que paga altos salários, morar em uma mansão, ter um carrão, viajar sempre para o exterior, e por aí vai.
Sucesso pra mim é diferente.
Para mim, uma pessoa de sucesso é aquela que tem a capacidade de se sentir satisfeita com a vida que tem, sem ficar invejando a vida dos outros. Ser capaz de amar uma pessoa e sentir compaixão pelo próximo. Ter bons e fiéis amigos. Ser capaz de viver por conta própria sem incomodar os outros. Ter boa saúde mental, saúde física e saúde financeira. Ter autoconhecimento. Ter equilíbrio emocional.
Eu busco esse segundo tipo de sucesso para mim e também para as minhas filhas. Esse é o meu conceito de sucesso. E é em busca desse sucesso que eu tento educa-las.
Daí vocês começam a juntar o quebra-cabeça e entender, o motivo de eu ter colocado as meninas em uma escola pública do bairro. Vejam bem, não é uma escola pública qualquer, eu procurei uma escola pública de qualidade, onde podia ter mais chances de ter esse diálogo.
É neste convívio escolar que nossas filhas nos veem conversando com a diretora da escola, nos oferecendo para ajudar, a fazer parte da Associação de Pais.
É com o nosso exemplo que elas aprendem que a união faz a força, que um pai não faz nada sozinho, mas que juntando diversos pais, somos capazes de ajudar na manutenção da escola, equipar a sala de informática, comprar bons livros para a biblioteca, reaproveitar uniformes para os alunos novos.
Elas aprendem a negociar, a dialogar, a lutar pelos direitos e a reconhecer o quanto juntos somos fortes.
Há algum tempo, o Aposente Cedo fotografou o trecho do livro que ele estava lendo: Propósito, de Sri Prem Baba. Diego, peço licença para usar sua foto, da mesma forma que fez muito sentido para você, fez muito sentido para mim também:
Coisas são coisas
Significa que não quero que elas achem que coisas são mais importantes que pessoas. Que ninguém pode se sentir mais importante por ter mais coisas.
Eu vejo pessoas tratando mal quem ganha menos, quem tem uma profissão menos valorizada pelo mercado. Vejo pessoas tratando de forma indiferente os porteiros do prédio, falando com desdém com os funcionários da limpeza, desvalorizando a pessoa que luta para sustentar a família vendendo bala no farol, e isso dói.
Tenho focado muito em 4 questões quando educo as minhas filhas: respeito, foco, escolhas e a importância de saber esperar para ter algo.
Precisam entender que ninguém é melhor do que o outro só por ter mais dinheiro ou mais posses.
Precisam entender que quem quer tudo, não faz nada direito.
Precisam entender que na vida precisamos fazer escolhas e aceitar as renúncias.
Precisam entender que é preciso ter paciência para ter algo.
Ensino sobre doar para os mais necessitados.
Ensino sobre compartilhar coisas.
Que não precisamos comprar por comprar, nem gastar por gastar.
Escrevi um post em 2019, contando um pouco da minha experiência sobre esse assunto. Quem tiver interesse, segue o link: A importância de ensinar as crianças a compartilhar
Presenteie com experiências
Ano passado, minhas filhas acabaram ganhando mais presentes do que eu gostaria (de familiares), e com isso, decidi perguntar se este ano, elas não gostariam de ao invés de ganhar um brinquedo, ganhar experiências para criar memórias em família, como ir num parque de diversões ou fazer uma pequena viagem. E para a minha alegria, as duas aceitaram.
Se colocar na ponta do lápis, comprar o brinquedo sairia bem mais em conta. Mas aqui, estou tentando ensinar que ao invés de ter, podemos sentir. Que ao invés de uma alegria solitária, a alegria compartilhada é muito melhor.
Para mim, tem muito mais valor um dia de muita animação em família do que pagar um brinquedo e depois de algumas semanas, ver esse brinquedo encostado em algum lugar da casa.
Claro que elas terão que trilhar o próprio caminho, esse, aliás, será a escolha delas.
Mas o que eu quero, é que elas tenham acesso à informação que eu não tive.
Não importa se elas vão seguir ou não os meus passos. Elas irão escolher o que elas querem, errar e acertar, mas pelo menos saberão que não há um único caminho a ser seguido. Não esse caminho da competição, não o caminho da ostentação, não o caminho do consumismo em excesso.
Quero apresentar o caminho que eu e meu marido temos trilhado há tempos: o caminho de viver com simplicidade e ter a liberdade de escolha graças à independência financeira.
~ Yuka ~