Dinheiro, IF e FIRE

Prefira estar errado no curto prazo, mas certo no longo prazo

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Para algumas pessoas, eu sempre estive errada.

Errada por morar de aluguel, errada por não ter um carro durante tantos anos mesmo com o nascimento das minhas filhas, errada pelas minhas filhas estudarem em uma creche pública, errada por economizar boa parte do meu salário, errada por querer me planejar e pensar em algo que ainda iria demorar para acontecer.

A diferença é que eu sempre soube que estava certa, e eu sempre tive o meu marido que confiou em mim.

Antes mesmo de conhecer o conceito FIRE (Financial Independence Retire Early), eu e ele já vivíamos de modo diferente da maioria, nós éramos frugais. Nós não importávamos com o que os outros falavam de nós, porque tínhamos um ao outro.

Quando eu comprei meu primeiro imóvel próprio, caindo aos pedaços, muitas pessoas falaram que eu estava fazendo a maior besteira da minha vida, mas eu enxergava potencial. Era um imóvel muito bem localizado, onde os dois quintais (de uma cobertura) estavam na justiça. Comprei assim mesmo, porque avaliei que só a parte de dentro do apartamento, sem os quintais, valia o que estava sendo cobrado. Contratei um bom advogado e deixei rolar. Enquanto isso, fiz uma reforma básica para morar bem e depois de alguns anos, vendi com muita facilidade. Ah, ganhei a causa dos quintais.

Quando coloquei minhas filhas na creche municipal, ouvi uns comentários maldosos sobre esse assunto. Mas o que ninguém sabia era a nossa motivação, o objetivo principal de colocarmos as meninas em uma escola pública. Talvez para quem já veio de uma família de classe média e alta, e sempre estudou em uma escola privada, colocar os próprios filhos numa escola pública seja o fim do mundo. Mas para mim e para o meu marido que estudou a vida inteira em escola pública, nós tínhamos outras motivações, que não eram apenas financeiras.

Quando descobri sobre FIRE e comecei a falar para os amigos e colegas próximos, algumas pessoas riram na minha cara e a maioria das pessoas nem quiseram ouvir o que eu tinha para falar. Comportamento bem diferente do meu marido, que desde o primeiro momento em que sentei do seu lado para explicar sobre o conceito FIRE, ele não só acreditou em mim, como entrou no mesmo barco e começamos a remar juntos. Passados 6 anos, nossa vida deu uma reviravolta (apesar de ninguém perceber essa diferença, porque quase não aumentamos nosso padrão de vida), não há se quer 1 único dia que eu não agradeça por ter tomado essa decisão lá atrás.

Quando as crianças nasceram, decidimos interromper temporariamente as viagens para o exterior, pois queríamos aumentar os aportes e também porque sabíamos que fazer um tour por um país desconhecido com 2 bebês que usavam fraldas não seria uma tarefa das mais fáceis. Sabíamos também que teríamos uma janela de tempo para poupar, pois conforme as crianças crescem, os gastos tendem a aumentar.

Eu e meu marido sempre vivemos abaixo do padrão que poderíamos viver. Então enquanto todos tinham carro, eu andava de ônibus e metrô, o marido de bicicleta. Enquanto todos compravam uma casa, eu continuava no meu apartamento alugado. Quando os amigos começaram a reformar seus imóveis, lá estava eu morando de aluguel ainda. Quando vieram os filhos e todos colocaram em creche particular, eu coloquei na creche municipal do bairro.

Essas são algumas das coisas que as pessoas viram. O que ninguém viu, é que eu não vivi na frugalidade à toa. Eu investi toda essa diferença não-gasta.

Eu poupei todo o dinheiro por não ter um carro. Também poupei todo dinheiro da reforma de um apartamento que não comprei. Poupei todas as vezes que não saí comprando algo desnecessário.

Minha mãe trabalhava para algumas pessoas que tinham um poder aquisitivo elevado. E ela viu muitas destas pessoas quebrarem. Veja que eram pessoas milionárias, que eram donas de empresas, tinham negócios que envolvia toda a família.

Ela sempre falou que não era feio ser pobre (como nós éramos). Feio, era esbanjar dinheiro e no futuro ser pobre, porque isso significava que você geriu mal o seu dinheiro.

Foi com essa frase que eu comecei a minha vida, lá de baixo. Eu entendi que eu poderia aumentar meu padrão de vida se eu tivesse condições de mantê-lo, ou seja, deveria ser uma escolha consciente, e vir de forma constante e devagar.

E é justamente por isso que nesses 11 anos que eu e marido estamos juntos, nunca recuamos nosso padrão de vida, porque crescemos muito mais devagar do que os outros.

Já morei em diversos tipos de apartamento, e em todos eles, vou melhorando um pouquinho. Comecei morando em uma república na época da faculdade, depois dividi quarto com uma amiga, depois morei nos fundos de uma casa de uma família, para finalmente conseguir morar sozinha.

A mesma coisa acontece com a escolha dos bairros. Comecei morando em uma rua encostada em uma favela, porque era o único lugar que eu conseguia pagar com o meu salário que era muito baixo. Depois fui morar em um outro bairro mais simples, e aos poucos fui melhorando, até conseguir morar em um bairro que eu sempre quis morar.

Hoje compro móveis e eletrodomésticos novos, mas cansei de comprar itens usados, de segunda mão, com preços extremamente acessíveis. Já comprei mesa, geladeira, fogão usado, porque nunca foi vergonhoso, eu sempre soube que era uma fase da vida.

Há um exemplo que eu gosto muito de dar, porque exemplifica muito bem o poder do tempo e dos juros compostos que a gente costuma negligenciar.

Imagine uma pessoa começando a investir aos 20, e continua fazendo aportes todos os meses no valor de R$1.000 (vamos desconsiderar a inflação, ok?) até os seus 40 anos, a um retorno hipotético de 10% ao ano. E dos 40 até os 60 anos, não faz absolutamente nada, não coloca mais nenhum dinheiro, só deixa rendendo. Ou seja, investiu por 20 anos, e deixou o dinheiro rendendo por mais 20 anos.

Enquanto a segunda pessoa investiu os mesmos 20 anos do que a pessoa do primeiro exemplo, mas ao invés de começar aos 20 anos de idade, decidiu começar ao 40 e foi até os 60 anos.

Os dois têm 60 anos hoje. Adivinhem quanto cada um tem?

A primeira pessoa tem R$ 4.877.348,19

A segunda pessoa tem R$ 724.986,73

Uma diferença de mais de 4 milhões de reais, sendo que o valor poupado foi exatamente o mesmo. A vantagem está no tempo, para quem começou a investir mais cedo. E é aí que está o grande segredo. Poupar no início da vida financeira para que os juros compostos tenham tempo para crescer. Agora imagine se esse valor inicial investido não fosse de R$1.000, fosse mais?

Os valores impressionam.

O que eu quero dizer aqui é que sempre é tempo de começar, alguns podem dizer, ah, pra mim é tarde demais, mas a verdade é que nunca é tarde. Claro que quanto mais cedo começar, melhor, mas se isso não foi possível, por qualquer que seja o motivo, é importante começar hoje.

~ Yuka ~

Auto-Conhecimento · Minimalismo

Comprei um carro

Depois de mais de 1 década vivendo de forma bem satisfatória sem ter um carro (13 anos para ser exata), eis que chegou o momento de comprar um carro.

Desde o início da pandemia, eu estive em teletrabalho, e agora que estou vacinada, retornarei ao trabalho presencial. Sinto-me grata por ter tido a oportunidade de poder trabalhar de forma remota durante todo esse período.

Mas não posso esquecer que apesar de vacinada, a pandemia ainda está em plena evolução e sem previsão de término. Meu marido ainda não tomou a segunda dose da vacina, e minhas filhas nem têm previsão de quando poderão tomar.

Até há alguns meses, eu ainda tinha a esperança de que a pandemia um dia fosse acabar. Vendo como o nosso país está levando a pandemia, não tenho a menor dúvida de que esta situação perdurará por muitos anos. As pessoas se acostumaram com as mortes diárias divulgadas na mídia e simplesmente pararam de se importar.

A compra do carro teve como principal propósito conseguir manter o distanciamento social no retorno ao trabalho presencial.

Sempre soube que meu maior risco não é no ambiente de trabalho, e sim, no trajeto até chegar ao trabalho, pois utilizo o transporte público para me locomover.

Quem mora em São Paulo sabe que usar transporte público em horário de pico pode significar entrar em uma lata de sardinha. Ou seja, não há nenhuma possibilidade de manter o distanciamento entre as pessoas.

Para contornar este problema, pensei em diversas opções. Cogitei em ir de Uber ao trabalho, cogitei em fazer uma assinatura mensal de carro nessas agências da Localiza ou Movida, mas depois de avaliar todas as opções possíveis, decidi que comprar um carro seria a opção mais segura e confortável.

Decidido isso, iniciei a busca de um carro, até que encontramos o carro que queríamos. Para nossa sorte, o vendedor era uma pessoa muito cuidadosa com o carro, com todas as revisões feitas na própria concessionária e fizemos toda compra e venda de forma muito tranquila.

Eu e o marido estamos felizes com a nova aquisição. No início, estávamos um pouco resistentes, porque vocês sabem, são muitos anos sem carro, e a gente se acostumou em não ter um (principalmente em não ter que pagar todos os custos associados), pois com todo o dinheiro economizado, fazíamos diversas coisas.

E de fato, os gastos já começaram.

Solicitei um laudo cautelar para verificar se o carro estava ok antes da compra. Depois paguei para o vendedor o valor do carro, fui no cartório para firmar a compra e venda, contratei o seguro, fui no despachante para fazer a transferência veicular e renovei minha CNH. Ainda levei para a concessionária para fazer a revisão do carro, aproveitei para instalar o Supaglass nos vidros, comprei 2 cadeirinhas de elevação para as minhas filhas, abasteci o tanque, entre outros gastos… ufa… quando somado, é um valor considerável.

Mas tudo bem. Quando decidi pela compra, já tinha uma ideia de quanto sairia esta brincadeira. Ou seja, o gasto era esperado e planejado.

Eu tenho total certeza de que eu continuaria não tendo um carro, se não fosse a pandemia.

A compra aconteceu, porque eu sempre tive muita clareza para que serve o dinheiro.

O dinheiro serve para trazer tranquilidade, trazer paz para a família, serve para trazer conforto. Eu sempre economizei em todos os lugares que eu podia economizar, mas também sempre gastei quando deveria gastar.

Este carro, em tempos de pandemia, além de me proporcionar segurança para manter o isolamento social, irá trazer mais mobilidade para a minha família.

Da mesma forma que foi muito bom não ter um carro durante todo esse período de 13 anos, essa nova fase trará também muitas oportunidades.

~ Yuka ~

Auto-Conhecimento · Minimalismo

Quando a luz quase se apaga

Farol, Brilho, À Noite, Pôr Do Sol, Oceano, Mar

A pandemia iniciou em março de 2020, e eu tive o privilégio de trabalhar de casa em um momento em que todos estavam apreensivos com o futuro. A chegada de um vírus mortal e desconhecido desestabilizou não só a mim, mas o mundo inteiro.

Vi colegas perdendo empregos, o salário sendo reduzido, pessoas próximas morrendo.

Me vi isolada com a minha família dentro de um apartamento, tinha medo até de ir no supermercado.

Eu cresci sem pai, e o único sentimento que eu tinha era de sobrevivência, eu não poderia perder a vida para Covid-19, não queria que minhas filhas crescessem sem um dos pais.

Ao contrário da maioria das pessoas que conheço, entramos em um isolamento social total que me afetou profundamente. Não encontrei mais a minha família, nunca mais encontrei meus amigos, não fui mais para shopping, cinema, restaurante, não fiz passeios, não viajei, não visitei ninguém.

Durante todo esse período, tirei 3 férias do trabalho, e em todas elas, permaneci dentro de casa.

Entendi que se eu podia trabalhar de casa, que pelo menos fizesse o isolamento social para fazer valer o que minha empresa tinha dado.

As pessoas próximas que me viram definhando aos poucos, falavam que eu deveria passear um pouco, fazer uma viagem em família, pensando na minha saúde mental. Mas não. Eu decidi permanecer em casa, apesar da minha saúde mental.

Enquanto isso, na empresa onde trabalho, vi meu trabalho aumentar.

Eu vivi o caos com 2 crianças pequenas trancadas dentro de casa sem poder ir para a escola enquanto eu tentava me concentrar para trabalhar.

De dia, trabalhava apagando incêndios pontuais no trabalho, enquanto cuidava e dava atenção para as minhas filhas, de noite eu sentava e começava a trabalhar. Ou seja, estava trabalhando de manhã, tarde e noite.

Eu trabalhava também enquanto cozinhava, deixando o notebook em cima da bancada da cozinha. Respondia mensagens de trabalho enquanto almoçava, e não foram poucas as vezes que eu simplesmente larguei meu garfo para resolver algum problema. O WhatsApp se tornou a nova forma de comunicação rápida, e com isso, era interrompida na hora do almoço, na hora em que estava no supermercado, na hora em que estava colocando minhas filhas para dormir.

Não sabia quando seria convocada para uma reunião emergencial, e comecei a tomar banho com o celular dentro do box do banheiro, sinal claro de que algo estava muito errado.

Eu comecei a acordar com taquicardia, e a primeira coisa que eu fazia ao acordar era esticar os braços para pegar o celular para ver se tinha algo emergencial. Outro sinal de que eu não estava bem.

Os meses foram passando e eu fui piorando.

Engraçado que na hora em que estamos no fundo do poço, nós não percebemos o quão fundo estamos.

Eu nunca havia passado por algo parecido.

Sair da cama se tornou um esforço hercúleo. Eu comecei a trabalhar da cama, o que pra mim, já era um esforço descomunal. Eu parei de me cuidar, queria ficar na cama o dia inteiro. Eu queria ficar sozinha, não queria mais conversar com ninguém, queria me trancar no quarto. E durante muitos meses, eu realmente fiquei assim. Havia uma névoa, uma nuvem cinza insistente que não saía de cima de mim.

Eu oscilava entre momentos sombrios e pensamentos confusos.

Esse blog era uma das poucas coisas que me deixava feliz.

E o meu marido?

Bom… meu marido assumiu praticamente todas as tarefas de casa quando eu estava completamente desorientada. Cuidou das crianças quando eu nem conseguia sorrir, respeitou todas as vezes que eu não queria falar com ninguém e me apoiou em silêncio quando eu nem sabia o que estava passando.

Aos poucos, fui melhorando, e há alguns meses, eu tinha percebido que aquela névoa que estava envolta em mim havia finalmente se dissipado. Eu estava secando a louça do jantar, e tentando lembrar… quando foi a última vez que havia secado a louça? Eu não conseguia lembrar. Quando foi a última vez que eu havia estendido a roupa no varal? Tirado o lixo da cozinha? Dado banho nas crianças? Trocado o lençol da cama? Eu não lembrava, porque eu não fazia mais, alguém estava fazendo por mim. E esse alguém era meu marido, e em nenhum momento ele me cobrou, ficou chateado ou bravo comigo. Ele só fazia em silêncio tudo o que eu não conseguia mais fazer.

Quando eu percebi isso, eu fui conversar com ele, e ele disse que “nós somos um time, quando um não está bem, o outro ajuda”. Não estamos falando de algo que durou dias, nem semanas. Estamos falando de algo que durou meses.

Para ele conseguir dar conta de tudo, algo teve que ser deixado para trás. E ele resolveu deixar o trabalho em segundo plano. Ele me disse que muitos projetos não puderam ser entregues, mas que não se arrepende, porque sabe que fez uma escolha: ele decidiu cuidar de mim. Disse que seu objetivo nesta pandemia eram dois: nos manter vivos e sair desta pandemia casado, e que modéstia à parte, estava se saindo muito bem.

A resposta dele lembrou o que uma terapeuta falou para mim quando estava tentando salvar o meu primeiro casamento. Que quando a luz de uma pessoa se apaga em alguns momentos sombrios da vida, a outra pessoa assume o lugar para estender a mão e guia-la, enquanto ela tenta se reencontrar.

Há 4 anos, escrevi um post sobre a minha relação com o meu marido. E já que continua tão atual, quero finalizar o texto de hoje com a mesma frase que finalizei o outro post:

Eu sempre acreditei que escolher a pessoa certa que vai caminhar com você, o que a gente chama de Vida, é o que faz a diferença se sua vida vai ser mais fácil ou mais complicada.

Viver Sem Pressa

~ Yuka ~

Dinheiro, IF e FIRE

FIRE: a verdadeira riqueza é ter liberdade de escolha

Liberdade, Menina, Viagens, Aventura, Verão, Dança

Há algumas semanas, o AA40 e o Viver, Viajar e Investir publicaram posts falando sobre o que seria FIRE (Financial Independence Retire Early). AA40 escreveu o post FIRE e a síndrome do escravo satisfeito, e logo em seguida, Viver, Viajar e Investir escreveu o post O que é realmente FIRE? A sigla ficou maior que seu significado? Os dois posts abriram algumas discussões sobre FIREs que continuam trabalhando, mesmo não precisando.

Achei os dois posts bem interessantes e resolvi também fazer um post explicando o que acho a respeito.

Durante muito tempo, meu marido odiou o trabalho dele. Foi só quando o dinheiro não era mais a força motriz é que a relação dele com o trabalho mudou. Hoje ele ama o que faz, e segundo as palavras dele, “trabalharia até de graça, pois gosta muito do que faz”. Vejo-o trabalhando nos fins-de-semana, quebrando a cabeça para resolver alguns problemas do trabalho. Quando pergunto por que ele faz isso, ele fala que sente prazer em sentar na frente do computador e ver os gráficos da pesquisa que ele faz.

Mas quando o dinheiro era uma peça fundamental da sobrevivência, isso nunca havia acontecido. Ele se via obrigado a aceitar projetos que não concordava, a fazer viagens que não queria, tudo pelo medo de ser cortado do projeto, de ser rejeitado pelas pessoas. Era o medo e a insegurança que comandava.

Eu enxergo FIRE como “ter possibilidades”. A jornada costuma ser longa, e junto com as oscilações de humor, as fases da vida em que estamos, o chefe que temos, o tipo de pessoas que trabalham conosco, a maturidade, percepções da vida, tudo isso vai interferindo em que tipo de FIRE que queremos ser.

Para quem tem um trabalho insuportável, a vontade é ser FIRE para nunca mais voltar a pisar em um escritório, e obedecer um chefe carrasco. Para quem tem um emprego onde não dá para ter previsibilidade, ou seja, tem o seu tempo raptado, ter de volta o seu tempo é o maior dos prêmios.

Eu entendo que não importa se a pessoa quer parar de trabalhar pra sempre, se quer tirar um período sabático, se quer continuar trabalhando no mesmo trabalho, se quer continuar trabalhando em outra área de atuação, se quer continuar trabalhando por dinheiro, se quer trabalhar de forma voluntária, se quer abrir um próprio negócio, se quer trabalhar em uma jornada reduzida, se quer curtir o tempo livre, se será um FI (Financial Independence) ou se será um FIRE (Financial Independence Retire Early) raíz, sem nenhum tipo de renda entrando além da renda dos investimentos.

A verdadeira riqueza da jornada FIRE é ter LIBERDADE DE ESCOLHA para fazer o que quiser.

E a liberdade de escolha é justamente poder ocupar seu tempo da forma como quiser, seja trabalhando, viajando, cuidando de familiares, estudando… Qualquer uma das opções só será possível por causa da liberdade de escolha.

E digo que tudo bem qualquer uma das opções, porque só nós sabemos lá no íntimo o que é suportável e insuportável na vida.

Da mesma forma que há diferentes tipos de FIRE como o Lean FIRE, Coast FIRE, Barista FIRE, Fat FIRE e outras formas novas de FIRE que vão surgindo, é saudável e permitido ter outras formas de vida pós-FIRE.

Vide o Mr. Money Mustache e a família Our Rich Journay. Ambos trabalham, mas nem por isso, deixaram de ser FIRE.

Sempre digo que a jornada FIRE não é uma jornada curta, e por isso mesmo, acontecem muitos solavancos no meio do caminho. Pessoas nascem, pessoas morrem, o ambiente de trabalho vai mudando, novas pessoas entram, outras pessoas vão embora, a percepção sobre o trabalho pode melhorar, ou até mesmo piorar. O que era bom hoje pode mudar de um dia para o outro. E o que era ruim, pode melhorar também de um dia para o outro.

Cada um que está prestes a se tornar FIRE, ou já é FIRE e que continua no trabalho, sabe o motivo de continuar no trabalho. Alguns continuam, porque querem continuar recebendo dinheiro. Outros porque sentem uma certa insegurança de terem feito as contas erradas. Outros, porque apesar de tudo, gostam do ambiente de trabalho. Outros, preferem interagir com outras pessoas a ficar em casa sozinho. Também tem os que querem aproveitar os benefícios que a empresa oferece. E em alguns casos, é uma mistura de tudo isso e um pouquinho mais.

Dentre tantas opiniões diversas sobre FIRE, uma delas pra mim é certeira.

A verdadeira riqueza de ser FIRE é ter liberdade de escolha para fazer o que bem quiser. Ou seja, poder viver da maneira que achar melhor.

Como já disse o Antônio Abujamra:

“A vida é sua, estrague-a como quiser”

~ Yuka ~

Auto-Conhecimento · Dinheiro, IF e FIRE · Minimalismo

Esqueça a cobrança pelo consumo e pelo status

Foto profissional grátis de agulha, algodão, anônimo

Outro dia, uma leitora perguntou como não me aborreço com possíveis julgamentos de amigos e família, vivendo de uma forma vamos dizer, um pouco fora do convencional.

E fiquei pensando que talvez nunca deixei isso claro nos posts, mas eu não divulgo o meu estilo de vida para as pessoas que estão ao meu redor.

É estranho falar isso, já que compartilho uma pequena parte da minha vida aqui no blog, mas não falo abertamente sobre esses assuntos na vida real. Então a minha família, os parentes e colegas de trabalho não sabem que eu sigo um estilo de vida minimalista, não fazem ideia de que entendo sobre investimentos, que estou na jornada FIRE (Financial Independence Retire Early), ou seja, não sabem dos meus planos audaciosos, dos meus sonhos ditos utópicos…

Eu costumo não ser uma pessoa radical, nem na religião, nem na política, nem nos investimentos, eu tenho a minha própria opinião, mas não saio levantando bandeira sobre essas questões, pois sei que cada um tem a sua opinião.

E é por isso que meu marido inventou um termo para isso. Ele diz que aqui em casa, vivemos o “Yukismo”, um estilo de vida que criamos baseado na nossa própria experiência de vida, que funciona muito bem para minha família.

Quando familiares e amigos nos visitam, é inevitável o comentário de que a casa é bem clean, mas eu não começo a discursar sobre o conceito de “como o minimalismo pode ser importante na vida de alguém”. Eu só dou um sorriso concordando.

Às vezes fico sabendo de algum comentário aqui e ali, algum comentário por a gente morar de aluguel, da gente não ter carro, pelo meu marido “ainda” ser um pós-doutorando, por a gente não ter feito uma festa para 300 pessoas no nosso casamento, e por aí vai.

Eu sempre fui uma pessoa discreta. Então fazer uma festa de casamento para 300 pessoas estava completamente fora de cogitação. Eu não conseguia me imaginar no meio de tantas pessoas, cumprimentando pessoas desconhecidas (porque assim, né, sempre tem uns penetras), como daria atenção para todos? Por uma decisão unânime entre eu e marido, fizemos um casamento pequeno, dito mini-wedding, para 35 pessoas em um bistrô francês e ainda emendamos uma lua-de-mel em Paris. Foi maravilhoso ter os meus melhores amigos todos perto de mim celebrando a nossa união. Foi um dos dias mais felizes da minha vida, não teria feito nada de diferente, foi tudo lindo e perfeito.

Outro exemplo fácil de dar é a festa de 1 ano dos filhos. Convenhamos, é uma festa para os adultos, já que o bebê costuma estar de olhos arregalados, assustado com tanto barulho, excesso de luz e pessoas desconhecidas.

No aniversário de 1 ano das minhas filhas, eu fiz festa estilo vovó, brigadeiro feito em casa, um bolo, alguns salgadinhos, e lá vai eu encher algumas bexigas, e chamei meia dúzia de pessoas que minhas filhas conheciam muito bem. Eu não fiz festa em buffet para as minhas filhas, mas não vejo problema em quem faz a festa, sempre que posso participo das festas dos filhos das minhas amigas, e me divirto demais. Para a família que achar esse registro importante, claro que é pra fazer essa festa, porque são momentos que não voltam nunca mais.

O que na verdade faz muita diferença, é que eu e meu marido estamos sempre muito alinhados, e SABEMOS o motivo de todas as nossas escolhas. E com isso, sabemos que se não estamos fazendo, é porque NÃO É IMPORTANTE para nós.

Sempre que for possível, precisamos fazer o que temos vontade, porque de uma forma ou de outra, as pessoas vão nos julgar. Julgar por não ter tido filhos, ou por ter tido 4 filhos. Julgar por morar em uma casa grande demais, ou em uma casa pequena demais. Julgar por sempre estar arrumada, ou por estar desleixada. As pessoas têm uma opinião formada de nós, e não acho que elas mudariam de opinião tão facilmente.

Então ao invés de gastar energia tentando convencer o outro, o que eu e meu marido fazemos é conversar muito entre nós dois, para termos essa consciência de que essa escolha só diz respeito a nossa família, que devemos respeitar a escolha dos outros, e os outros devem respeitar a nossa escolha, mas como as pessoas não costumam respeitar as nossas escolhas, nós nem comentamos sobre detalhes da nossa vida.

Infelizmente, o mundo está muito polarizado. As pessoas querem empurrar goela abaixo o seu próprio estilo de vida, a opinião, querendo ter sempre razão, como se na vida existisse apenas uma única forma de viver. E nada disso é verdadeiro.

Eu não tenho nenhuma pretensão de mostrar que a forma como eu vivo é melhor ou não, claro, ela é muito boa para mim e para a minha família, tanto que compartilho parte do que faço aqui no blog para quem tem interesse ou curiosidade, mas na vida real, não mostro nada disso que compartilho no blog.

Eu sou uma pessoa extremamente comum aos olhos das pessoas que me rodeiam. Eu faço questão de voar abaixo do radar, não chamar atenção (não quero atrair sentimentos de inveja), e por isso consigo transitar bem no ambiente familiar, no ambiente profissional, com os amigos.

A parte ruim é que são poucos os que me conhecem de fato, profundamente. Apenas alguns dos meus amigos. Quem me conhece mesmo, é o meu marido, ah esse me conhece bem.

Como tenho as minhas próprias opiniões que fogem um pouco do padrão convencional, eu percebo que quando resolvo falar o que penso para algumas pessoas, elas se sentem na obrigação de justificar por que não fazem o mesmo, e em alguns casos, tentam me atacar criticando a minha forma de viver. Ora, mas ninguém está falando que a minha forma de viver serve para a outra pessoa, ou seja, uma coisa não tem nada a ver com a outra. É assim que percebo que essa pessoa não está pronta para ouvir opiniões diferentes, e eu corto o assunto e parto para assuntos genéricos.

Já há pessoas que aceitam o jeito que sou, sem julgamentos. Acham legal, mas sabem que não servem para elas, sabem que não precisam seguir o mesmo caminho que o meu, pois cada um tem o seu ponto de vista.

São pessoas que aceitam a minha forma de pensar, não julgam se têm opiniões diferentes, respeitando o meu estilo de vida. São com essas pessoas que eu busco estar sempre por perto, apesar de ser bem difícil encontrá-los.

~ Yuka ~