Escrevo este post no silêncio da noite, enquanto todos dormem. Este é momento que tento equilibrar minha mente, encontrar a paz, respirar o silêncio, avaliar minhas atitudes, colocar meus pensamentos no lugar.
Quando convivemos com crianças, ver uma simples foto de 1 ano atrás chega a ser algo impressionante.
As crianças crescem num piscar de olhos. Há um ano, um ser humano dependente de tudo, usando fraldas… e de repente, lá está a criança colocando a mãozinha na cintura expressando seus sentimentos.
É algo fascinante de observar, e só confirma como o tempo voa.
Quero compartilhar uma reflexão que tem me acompanhado quase que diariamente desde o início da pandemia.
Quanto tempo do seu dia você vive para você?
Nessa era da internet, é bem improvável que alguém consiga viver 100% desconectado.
Salvo raras exceções, isso deve ter agravado ainda mais na pandemia. Ou seja, consumir algo que outras pessoas produziram, se torna cada vez mais comum: notícias, sites, vídeos no YouTube, fotos no Instagram, Facebook, TikTok, WhatsApp, Twitter, etc.
Olhar fotos de comida que os outros estão comendo em restaurantes. Contemplar as viagens paradisíacas que outras pessoas fizeram. Assistir os vídeos que outras pessoas produziram, o que as outras pessoas estudaram, o que as outras pessoas escreveram. Assistir os outros cozinhando, preparando refeições. Assistir pessoas dançando, fazendo esportes, jogando videogames.
Enquanto se permanece afundado no sofá de casa, o consumo excessivo das experiências de terceiros, que de nada acrescenta na vida, continua pela tela do celular.
Abdicar de viver a própria vida para ver a vida do outro através de uma tela. É para ‘isto’ que estamos trocando o tempo valioso da nossa vida? O tempo valioso que não podemos comprar de volta?
Gosto da seguinte pergunta: “Afinal, quanto tempo do meu dia eu vivo para mim?”
Enquanto o mundo se prepara para se tornar cada vez mais virtual, minha família se prepara para seguir mais uma vez, uma vida contrária à maioria.
Semana que vem, vou detalhar um pouco a minha trajetória invertida: do digital ao analógico.
Os anos de 2020 e 2021 foram períodos de rebuliço para muitos de nós.
Como já comentei nesse post, tive depressão durante a pandemia. Essa depressão evoluiu para um quadro de ansiedade que me fez repensar em todas as minhas prioridades novamente.
Digo novamente, porque fazer revisão de gastos e fazer revisão de prioridades, são coisas que precisamos fazer sempre, de tempos em tempos.
A única direção que a sociedade tem seguido é aumentar o consumismo, aumentar as distrações, o estresse, as obrigações e a falta de tempo.
Ir contra essa direção, é ir contra a maré de tudo o que vemos e sentimos, uma pequena tentativa individual de tentar melhorar a qualidade de vida, mesmo com todos os percalços do dia-a-dia.
Quero começar esse ano com MENOS auto-cobrança, para viver com MENOS estresse, com MENOS tensões, MENOS complicações.
MENOS internet, MENOS exposição, MENOS tralhas.
MENOS obrigações, MENOS pessoas tóxicas, MENOS sorrisos forçados.
Busco para o ano de 2022 MAIS qualidade de vida, MAIS presença, MAIS liberdade.
Quero poder ter MAIS ócio, MAIS criatividade, MAIS espontaneidade.
MAIS sinceridade, MAIS dedicação, MAIS essência.
Quero ter MAIS paciência, MAIS silêncio, MAIS tempo livre.
MAIS livros, MAIS amigos, MAIS família e MAIS amor.
Hoje quero compartilhar uma notícia com vocês… estou saindo de São Paulo.
Não, diferente da Sempre Sábado, não pedi demissão do meu emprego rsrs.
Então já devem imaginar que a cidade escolhida é relativamente próxima de São Paulo, pois apesar de hoje trabalhar remotamente por conta da pandemia, ainda acredito que um dia voltaremos a normalidade e trabalhar de forma presencial. Pelo menos é assim que quero acreditar.
Esse momento em que nos encontramos atualmente, acabou trazendo muitas reflexões para mim e para o meu marido.
Meu marido sempre teve vontade de sair de São Paulo. Desistiu de morar no exterior por minha causa. Desistiu de propostas de emprego em outros estados por minha causa. Mas quando ele citou uma determinada cidade, algo acendeu dentro da minha cabeça e surgiu a pergunta:
“Por que não?”
A cidade é próxima de São Paulo, minha mãe ainda conseguiria ver com frequência as netas, eu poderia continuar no meu trabalho, meu marido ficaria muito feliz, minhas filhas teriam mais qualidade de vida, praças e parques à disposição, uma cidade menor facilitaria inclusive a minha vida, já que poderia levar as crianças a pé para a escola, para a casa das amigas, passeios à lazer.
Inclusive, é uma cidade em que eu seria muito feliz sendo FIRE.
Conversamos sobre prioridades, do que era importante para nós.
Dei início à muita, muita pesquisa. Passei dias, semanas e meses verificando a viabilidade dessa mudança de cidade, afinal, mudar sozinha é uma coisa, mudar com a família é outra responsabilidade. Calculei rotas, distância para o trabalho, opções de condução, preço dos imóveis, qualidade e localização das escolas, taxa de criminalidade, a escolha do melhor bairro para quem não tem carro (porque ainda pretendo não ter um), a estrutura do bairro e o que ele proporciona em relação a qualidade de vida… e depois de tantas perguntas respondidas, finalmente, com frio na barriga, decidimos sair de São Paulo.
Decidido o bairro, olhei no Google Maps todos os serviços que costumo utilizar: supermercados, feiras de rua, farmácias 24 horas, locadoras de carros, academias, padarias, lojas de jardinagem, papelarias, hospitais, parques e praças, tudo que possa ser útil no meu dia-a-dia.
Após conhecer os principais serviços do bairro, gosto de morar bem no meio de todas as coisas que eu preciso, porque desta forma, tudo será perto da minha futura residência. Basicamente, coloco meu dedo no mapa e digo assim “vou morar exatamente aqui”. E com isso, tenho de 2 a 3 nomes de ruas específicas que desejo morar.
Depois que aprendi esse meu jeito particular de escolher imóveis, eu nunca mais escolhi um lugar para morar de forma aleatória. Eu não escolho minha casa por causa do prédio, se tem varanda gourmet ou academia. O meu principal critério sempre foi a localização.
Somente depois de escolher a rua (e em muitos casos, tenho nome da rua, e a quadra que quero morar), que inicio o monitoramento de oportunidades em sites de imobiliárias. Ou seja, quando vou buscar um imóvel, já conheço bem as ruas do bairro e sei inclusive o nome da rua que quero morar.
Tudo aconteceu muito rápido. Encontrei um imóvel bem na rua que queríamos morar, exatamente na quadra que desejávamos, com um valor abaixo do que esperávamos pagar. Em menos de 1 mês, tudo estava acertado, essa é a vantagem de morar de aluguel.
O meu futuro apartamento tem uma pequena varanda com vista livre, bate sol de manhã e à tarde, fica em uma rua bastante tranquila em um bairro muito, muito bem localizado.
Para quem acha que bairro bom, costuma ser caro, acertou. Daí a importância de não ficar acumulando tralhas dentro de casa. Imagine ao invés de alugar um apartamento de 100m2, alugar um de 60m2. Sai bem mais em conta.
Apesar da família ter dobrado de tamanho (antes era eu e meu marido, hoje somos em 4 pessoas) a cada mudança, o tamanho do caminhão que contratamos vai diminuindo.
Aliás, o tamanho da casa também tem diminuído. Antes eu morava em um apartamento que possuía quintal, num total de 120m2. Depois morei em um apartamento de 85m2. Hoje moro em um apartamento de 70m2. E apesar da imobiliária ter informado que o meu próximo apartamento tem 70m2, desconfiei que ele era menor, e levei uma trena para medir. Sim, ele tem 60m2.
Tendo menos coisas, conseguimos morar em um apartamento do tamanho da nossa real necessidade. Nem mais, nem menos. Não precisamos de um quarto extra para armazenar as tralhas, nem de uma cozinha grande, pois teremos somente o necessário. Isso significa que é possível morar em um apartamento menor do que a maioria das pessoas que possuem muitas tralhas. Se o apartamento é menor, paga-se menos pelo aluguel, menos pelo condomínio, menos energia (pois usamos lâmpadas de menor potência), menos móveis, menos produtos de limpeza, menos tempo limpando e arrumando a casa.
Durante alguns meses, enfrentaremos o período de transição, já que minhas filhas ainda frequentarão a creche de São Paulo (e não quero abrir mão, já que a creche é maravilhosa), mas assim que elas forem entrando no ensino fundamental, sei que as coisas vão se tornar cada vez mais fáceis, já que a tendência será concentrar tudo na cidade em que moraremos.
Com um sentimento de profunda gratidão, deixo meu apartamento em São Paulo. Guardarei ótimas lembranças desse período, pois fui muito feliz.
Na minha nova cidade, vou continuar fazendo tudo a pé. E é desta forma que eu consigo desacelerar o ritmo da cidade, aliando qualidade de vida e localização estratégica, pois já faz um tempo que eu percebi que a cidade desacelera quando a moradia tem localização estratégica.
Encerro este post com uma frase do marido:
Nós não seremos felizes no novo apartamento.
Nós CONTINUAREMOS sendo felizes no novo apartamento.