Minimalismo

O que é luxo para você?

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Vejo que a palavra luxo, vai se apresentando de forma diferente para mim, conforme o tempo passa.

Se antes essa palavra significava ITENS CAROS, depois de uma certa idade, luxo se tornou TER TEMPO.

Neste ano, esta palavra se tornou mais encorpada, e hoje, me atrevo a dizer que luxo é ESTAR PRESENTE.

Neste mundo moderno, percebi que não basta ter tempo e/ou dinheiro, se não conseguirmos estar presentes.

Um pai que reserva um tempo para levar o filho no parque, mas seus olhos não estão acompanhando o movimento ainda desajeitado do filho. O pequeno procura os olhos do pai em busca de aprovação, mas os olhos dos pais estão no celular. Houve TEMPO, mas o pai não ESTEVE PRESENTE.

Um casal decide jantar em um bom restaurante. Os dois ficam entretidos em tirar fotos da comida, postar nas redes sociais e interagir com as outras pessoas que não estão lá naquele momento. Houve DINHEIRO, mas o casal não ESTEVE PRESENTE.

A vizinha decide fazer uma viagem maravilhosa, mas descobre que não consegue se desconectar da internet. Ou seja, não consegue curtir a viagem sem estar offline. Houve DINHEIRO e TEMPO, mas não ESTEVE PRESENTE.

Não lembraremos o sabor da comida que comemos, a notícia que lemos agora há pouco, a conversa que tivemos com uma amiga, o que aconteceu no trajeto entre a casa e trabalho, não lembraremos a roupa que escolhemos para vestir, o cheiro do ambiente, a música que estava tocando, nem o ninho do pássaro que surgiu no telhado da sua casa…

Teremos flashes de memórias, mas não memórias inteiras: fez uma viagem, mas ao mesmo tempo não fez; está na vida de alguém, mas ao mesmo tempo não está, conversa com alguém, mas ao mesmo tempo não lembra da conversa; ama, mas não se entrega.

Eu também fico bastante tempo ausente, já que eu, que de certa forma, sempre gostei de estar no futuro, pois era a minha esperança para mudar de vida, ter um futuro melhor, dias melhores. Eu gerava ansiedade de propósito em mim, para que pudesse alcançar certos objetivos de vida, e dava muito certo…

Até que tive minha primeira crise de pânico e resolvi que não quero mais fazer isso comigo.

Toda vez que percebo que o meu pensamento está no futuro ou no passado, trago-o com gentileza para o aqui e agora.

Se estou dentro de um carro rumo ao aeroporto, ao invés de ficar ansiosa querendo que o destino chegue logo, eu lembro de curtir o trajeto, colocando na minha cabeça que a viagem já começou, que o trajeto já é o início da viagem, e que por isso mesmo posso aproveitar para relaxar, apreciar a paisagem, o vento no rosto, não preciso chegar com pressa. Chegar com pressa, é querer que a viagem termine logo.

O vídeo do Clóvis de Barros nunca fez tanto sentido para mim, como nessa fase em que me encontro atualmente, de que a felicidade é aqui e agora.

No meu caso, acabou coincidindo esta fase do estar presente, com a chegada de um valor confortável de patrimônio.

Mas e se eu não tivesse chegado nesse marco financeiro? Será que eu mudaria algo no meu comportamento hoje?

Eu acredito que sim.

Como já disse em outros posts, eu não tive que fazer grandes sacrifícios na jornada FIRE, porque recebo um salário acima da média, aliei o minimalismo com a independência financeira, e sempre tive muito cuidado em subir o padrão de vida. Então toda vez que melhorava o padrão de vida, eu sabia que seria para sempre, e não apenas uma situação momentânea. Eu soube fazer boas escolhas, eu estava numa fase boa, além do universo ter se alinhado para que as coisas acontecessem em momentos oportunos (bolsa subindo, imóveis subindo etc).

O que me preocupa é que muitos que estão na jornada FIRE acabam se sacrificando muito mesmo, e talvez tenha chegado o momento de rever um pouco esse conceito.

Acho FIRE muito legal e sou muito grata por tudo que aprendi.

Só acho que há diversos perfis e algumas coisas precisam ser colocadas em pauta: poucas pessoas têm o perfil de ganhar um salário alto + viver com pouco + poupar grande parte do salário + aliado à fase de vida em que a pessoa está (solteiro, jovem, casado sem filhos, casado com filhos pequenos).

A grande parte da população ganha um salário baixo, vive com pouco e para conseguir ser FIRE, precisa abrir mão de muita coisa, muitas vezes até de ter uma vida feliz, como sair com os amigos, namorar, casar, viajar, só para poder economizar mais.

Uma coisa é alguém ganhar 10 mil, 20 mil e economizar 70% do salário, pois com os 30%, ainda dá pra morar bem, comer e ter seus momentos de lazer.

Outra coisa é alguém ganhar 2 mil, 4 mil e tentar economizar 70% do salário. Para essas pessoas, poupar boa parte do salário significa abrir mão de morar bem, comer e ter seus momentos de lazer.

Veja… às vezes vale a pena pegar mais leve nos aportes, aproveitar mais o hoje, aproveitar os amigos, gastar um pouco mais com a família, em lazer, em conforto, mas sempre reservando parte do salário para investir.

Se fazer isso atrasasse a independência financeira em mais 10 anos ou 20 anos, ok, pelo menos viveu, esteve presente, e o melhor, saberia que após esses 10 ou 20 anos a mais, continuaria com a companhia das pessoas que são importantes na vida hoje.

Se nesse meio do caminho adoecer, estará com a consciência leve por ter vivido a vida por completo, e não pela metade.

Se nesse meio do caminho perder alguém importante para alguma doença ou acidente, estará com a consciência tranquila por ter vivido a vida por completo, e não pela metade.

Desejar que o tempo passe logo para ser FIRE, é desejar que a semana termine logo, que o mês termine logo, que o ano termine logo, e quando perceber, já terá passado 20 anos dos seus melhores anos.

Depois que entendi isso, passei a compreender que LUXO nos tempos modernos é estar presente.

~ Yuka ~

32 comentários em “O que é luxo para você?

  1. Yuka,

    Penso como você: ter tempo e estar realmente presente são os luxos da vida moderna em uma sociedade tão corrida e eternamente insatisfeita…

    “Toda vez que percebo que o meu pensamento está no futuro ou no passado, trago-o com gentileza para o aqui e agora.”
    Gostei de maneira especial dessa frase. Agradeço por me relembrar desse “detalhe” essencial da vida.

    Boa semana!

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  2. Perfeito… Mil vezes perfeito! Concordo plenamente em investir pensando no futuro. Mas não dá pra confiar somente em que futuramente vai usufruir. E se você adoencer? Penso em ter guardado tanto, para fazer tudo depois…mas se não tiver depois? Acredito que devemos aproveitar o que temos hoje (com responsabilidade e pensando em ter um futuro confortável). Mas aproveitar os amigos hoje, o companheiro hoje, os pais, os filhos, e principalmente a saúde de hoje.

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    1. Sim, investir pensando no futuro é maravilhoso, mas não precisamos pensar nisso o tempo inteiro. Podemos planejar que tipo de vida queremos, quanto queremos poupar, e quando estivermos pensando nisso, focar 100%. Mas depois, precisamos voltar para o momento presente e viver a vida, aproveitar o máximo que puder, aproveitar os amigos, a família, o dinheiro do trabalho, viajar. Nós sempre pensamos que iremos morrer aos 80, 90 anos, mas a vida pode ser interrompida a qualquer momento, em qualquer esquina. Meu pai morreu quando tinha 35 anos, e vejo como a vida dele foi breve. Eu tenho 41 anos e já vivi mais que meu pai, e essa constatação é muito estranha para mim. Beijos.

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  3. Yuka, mais um texto inspirador! Acredito que eu esteja vivendo essa fase de passar grande parte do tempo pensando no futuro, pelo fato de ter estipulado uma meta grandiosa para 31/12/2024. Não vejo a hora do mês acabar para guardar mais dinheiro, mesmo sabendo que, se continuar como o planejado, alcançarei a meta sem grandes esforços. Para mim sempre foi difícil essa relação entre aproveitar o hoje e se preparar para o amanhã, não em questões financeiras, mas em todos os sentidos. É muito ruim viver pensando no futuro, no final de semana, na viagem que farei no próximo mês, nas férias que estão chegando, chegar do trabalho e dormir para trabalhar no dia seguinte… é uma ansiedade sem fim. Gostaria muito de encontrar o meio-termo para isso

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    1. Oi Júlia, eu entendo bem o que você diz, porque eu também vivi assim por um tempo. Eu queria que o mês acabasse logo para receber meu salário e poupar mais. O que me ajudou bastante a aproveitar mais o hoje, foi ter lido o livro Die With Zero, que infelizmente, ainda não há versão em português. Foi lendo esse livro que eu percebi que eu já poderia parar de poupar, já que não pretendia sair mais do emprego. Eu poderia ser Lean Fire, mas almejava ser Fat FIRE. Mas compreendi que com o montante que eu havia acumulado até o momento, eu seria Fat FIRE daqui a alguns anos, só com o poder dos juros compostos. Talvez você esteja na mesma situação financeira que a minha. Se você já irá chegar numa meta grandiosa em 2024, entendo que já chegará de qualquer forma sem grandes esforços, como bem escreveu. Então você pode relaxar e permitir curtir mais o momento presente. Esse ano de 2022, eu quase não guardei dinheiro rsrsrs. Não tirei nada dos investimentos, mas não investi muita coisa, e vi que está tudo bem. Ano que vem, irei poupar um pouco mais que esse ano, mas já não preciso mais poupar 70% do meu salário. Beijos.

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  4. Estou abrindo mão de tudo para ser FIRE. Moramos mal, saimos nunca, comer fora é historia, vendemos o carro, andamos de busao, familia querendo me matar. Vale a pena? Espero que sim se não eu vou achar estes blogueiros FIRE e matar um por um

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    1. Donald, conforme destacado gentilmente por muitos nos comentários, o segredo é encontrar o meio termo para isso. De que adianta guardar quantias valiosas se quando chegar o momento de usufruir estiver com uma doença terminal? Comentei abaixo que para mim também é difícil essa questão, mas o limite saudável que encontrei é estipular valores mensais para curtir a vida, que de fato, é HOJE. Ontem passou e amanhã ninguém sabe se estaremos aqui. Eu não quero morrer pensando que deixei de aproveitar a vida para guardar um dinheiro que nem será utilizado por mim, e todo esforço foi em vão. Espero que consiga também!

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      1. Oi Yuka, Me lembrei do filme Click com Adam Sandler, o personagem ganha um controle remoto onde magicamente consegue pular todas as etapas da vida para alcançar logo seu objetivo, mas quando finalmente chega lá , está velho sem amigos, família e saúde e descobre que não valeu a pena.
        O filme nos faz refletir no estar presente, aproveitar o aqui e o agora (a jornada) vale a pena assistir.

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        1. Oi Vanessa, sim, esse filme é bem legal. E outra, quando ele chega lá, o Adam Sandler descobre que não lembra das partes que ele pulou, porque viveu no modo automático. E isso acontece com a gente também. Quando a gente vive de forma distraída, não percebemos nada do que está acontecendo ao nosso redor.

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  5. Yuka

    Que belo texto. Estava esses dias pensando nisso…como gastamos tempo pensando no passado e futuro e n aproveitamos o presente. Aporte é importante, mas realmente n pode ser tudo. Aproveitar o hoje e ser feliz tem que estar sempre sendo realizado.

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    1. Oi Robson, com certeza, aportar é importante, principalmente porque depender só da aposentadoria é algo muito arriscado. Mas viver só pensando na aposentadoria, achar que a vida bacana só vai começar depois que aposentar, é pedir para que a vida passe rápido e o pior, no modo automático, sem memórias boas, sem lembranças. Beijos.

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  6. O mais importante é ter saúde e paz. Pode ser clichê, mas se formos colocar tuda na balança é isso mesmo.
    Porque até estar presente, sem paz e/ou saúde é ruim.
    A maioria do conteúdo que se tinha na internet a anos atrás relacionada a IF eram de produtores estrangeiros, geralmente dos EUA. Postagens traduzidas e publicadas aqui.
    As idéias por melhores que sejam não funcionam da mesma maneira em países diferentes.
    Simplesmente querer aplicar aqui a “tática” que se aplica nos EUA é no mínimo insensato. Passada essa fase inicial na internet, começaram a surgir produtores de conteúdo brasileiros, ensinando do básico ao mais avançado, mas certamente nem todos os ensinamentos são aplicáveis a todos.
    Lamentavelmente o Brasil é um país difícil para a ascensão social. A média salarial brasileira é baixa, o país é burocrático, o mercado de trabalho é concorrido e exigente demais para pagar o mínimo possível.
    Fora que quase tudo é caro em comparação a renda das pessoas. Aí a IF fca muito mais como um sonho, do que uma realidade alcançável.
    A maioria dos brasileiros vai no máximo diminuir danos e alcançar uma tranquilidade financeira, isso se tiver disciplina e uma dose de sorte.

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    1. Oi Anon, concordo muito com você, acho que se a maior parte da população puder pensar na tranquilidade financeira, ao invés de alcançar FIRE, poderá viver uma vida mais presente, e ter uma aposentadoria tranquila. Beijos.

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    1. Fica uma outra questão a ser pensada: Sem dúvidas é importante estar presente, o presente é tudo o que temos.
      Mas porque não estamos presentes com tanta frequência?
      Será se o presente de boa parte das pessoas é o que elas querem ou queriam?
      Será se elas estão bem e confortáveis sendo elas mesmas e vivendo a vida que tem?

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      1. Oi Anon, infelizmente sempre fomos incentivados a querer algo que não temos, ao invés de nos contentar com o que já temos. Queremos o corpo perfeito, a casa perfeita, o trabalho dos sonhos, um patrimônio relevante, e aí, ficamos sempre sonhando com o que não temos, ou seja, vivendo no futuro que pode nunca chegar…

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    2. Sim Ana, é muito bom estar presente. Uma pena que isso não é incentivado em lugar nenhum. Sempre buscamos algo que não temos, o corpo perfeito, o emprego dos sonhos, um patrimônio relevante, a casa dos sonhos, e aí sempre estamos buscando, buscando, buscando, correndo atrás de um anzol que nunca conseguimos pegar. Eu também sempre normalizei viver no futuro, via como algo bom, mas hoje vejo que focar no presente é algo essencial. Beijos.

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  7. Perfeito!!!
    Precisava muito ler suas palavras.
    Amo o modo como escreve. Sempre com muita gentileza.

    Sou exatamente essa pessoa que ganha 4mil com filho e gastos médicos.
    Adoro o FIRE e acredito muito no poder do longo prazo. Mas não consigo investir 70% da minha renda…
    Mesmo assim não desisto, e sempre analiso que minha realidade não é igual a de tantos, nem pra quem está lá no alto (independente financeiro), nem pra quem está lá embaixo (passando fome).

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    1. Oi Carol, pois é, quando queremos ser FIRE e já temos filhos, a realidade é bem diferente, se comparamos com uma pessoa jovem, solteira, sem filhos. Está tudo bem não investir 70% do salário, porque fazer isso significa privação para filho, não criar memórias, não passear, não viajar, abrir mão de certos alimentos etc. O que eu quero que as pessoas entendam é que a realidade e necessidade são diferentes para cada um, e que tudo bem poupar 10, 20% do salário, que tudo bem não ser FIRE em 10 anos, isso não torna as pessoas menos esforçadas ou menos dignas, muito pelo contrário, é respeitar a realidade de cada um. Fazer isso (pensar no futuro), sabendo que ao mesmo tempo, poderá aproveitar o momento presente. Para a maioria das pessoas, ao invés de FIRE, o termo tranquilidade financeira é mais adequado. É poder ter tranquilidade de saber que tem uma reserva financeira, de saber que se ficar desempregada, poderá passar alguns meses sem precisar passar fome, de saber que terá um complemento da aposentadoria quando chegar a idade de se aposentar. Um beijo!

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