Licença-maternidade: o período sabático que a minha filha me deu

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Muitas pessoas falam que a licença-maternidade é um período único. Um período mágico para curtir de fato a maternidade. Cuidar do seu bebê, aprender a cuidar de um novo ser, aprender a ser mãe.

No meu caso, foi tudo isso sim, mas também teve mais uma coisa.

Quando estava de licença-maternidade, fiz a maior descoberta da minha vida. Talvez eu já soubesse, mas não queria ouvir, não estava pronta para entender…

Como quem acorda de uma hipnose, eu descobri que era uma ESCRAVA.

Eu não queria mais trabalhar por 8 horas todos os dias, mas não havia outra opção. Eu voltei a trabalhar porque precisava pagar as contas do mês.

Só que eu não queria mais trabalhar por obrigação, não queria deixar minha filha gripada na creche… mas eu precisava registrar meu crachá na empresa onde trabalho… foi quando compreendi que eu era uma escrava do sistema.

Nós nascemos escravos e a maioria de nós morremos escravos. Com 6 meses, o bebê meio que já é obrigado a ir para a escolinha para que os pais possam trabalhar. Desde então, a maioria de nós nunca mais para de ir para a escola até se formar na faculdade. Depois temos que escolher uma profissão e o resto da história vocês já sabem.

E por querer fugir desse sistema, eu pensei muito durante a minha licença-maternidade de que forma poderia encontrar alternativas para escapar dessa realidade que eu não estava mais disposta a pagar.

A alternativa que encontrei foi rever todo o meu orçamento para nos aposentarmos aos 50 anos, ou seja, daqui a 15 anos. Em 15 anos, terei a minha carta de alforria e poderei trabalhar no que gosto, e não escolher o trabalho por causa do salário. Mas não faço disso uma tortura. Continuamos tendo nossos momentos de lazer, pretendemos ainda fazer muitas viagens, nos divertir, enfim, viver.

Eu só quero ter a oportunidade de descobrir o que gosto. Eu sempre achei que poderia trabalhar num santuário de elefantes… Ser marceneira para construir cozinhas infantis… Eu poderia pintar muro de escolas, costurar roupas… mas eu fico no escritório mais de 10 horas por dia, e volto exausta para casa.

Eu quero ter a oportunidade de me descobrir.

Até então, eu achava que o período sabático era ligado a viagens, algo caro, inacessível.

Quando fui ver a definição neste site aqui, vi que o que até então eu chamava de “presente”, era na verdade, um período sabático.

O período tem que partir de uma motivação pessoal: seja repensar a vida, resgatar o sonho de estudar fotografia, trabalhar com crianças carentes da Ásia ou até conhecer o mundo. E, diferentemente do que muitos pensam, nem sempre precisa durar um ano. “Mas o tempo necessário para produzir mudança. A duração vai depender de cada objetivo”.

Foi no período da licença-maternidade que eu percebi a minha maior mudança mental e comportamental.

Acredito que a minha filha trouxe esse presente para mim. Foi por não querer ficar longe dela que eu acordei, alcancei um nível maior de consciência. Eu deixei de ser vítima para correr atrás do que eu acredito. Foi ela que trouxe isso pra mim.

~ Yuka ~

 

6 Comments on “Licença-maternidade: o período sabático que a minha filha me deu”

  1. UAU, também senti algo semelhante, quer dizer, eu já pensava e pesquisava sobre aposentadoria precoce desde 2009, mas sem levar a sério. Só desejando. Daí meu filho nasceu em 2012 e fiquei realmente abalada, quer dizer, eu gostaria de poder ficar mais tempo com ele na infância, quando ele também quer ficar bastante tempo comigo, mas preciso trabalhar… qual o sentido disso? Quer dizer, é obvio que precisamos de dinheiro, mas também precisamos de tempo, e de curtir o tempo que não volta mais. Então, também decidi mudar, planejar e executar os passos para uma aposentadoria precoce (bem, precoce em termos… hehehehe). Hoje fico lendo os posts do mr. money mustache http://www.mrmoneymustache.com/2011/04/25/having-the-talk-with-a-current-or-potential-mate/ e pensando por que eu não fiz como eles? Mas não adianta chorar sobre o leite derramado, né? Vamos a luta. Antes tarde do que nunca.

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    • Pois é, sempre penso isso, antes tarde do que nunca rsrs. Eu cheguei a comentar para algumas pessoas sobre esse meu projeto audacioso de aposentar precocemente, e ninguém me deu bola. Na verdade, algumas pessoas riram, outras pessoas me olharam esquisito e a maioria nem deu bola. Mas posso te dizer uma coisa? O projeto está firme e forte e a todo vapor. Eu conheço também o Mr. Money Mustache. Aqui no Brasil não se fala muito sobre isso, mas nos EUA, tem bastante artigos sobre “early retirement”. Um beijo!!!

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  2. Olá Yuka. O seu texto me fez lembrar do meu período de licença-maternidade. Acho que os sentimentos foram os mesmos – estou desperdiçando meu tempo com aquilo que não faz mais tanto sentido! Levou um tempinho pra reorganizar minha vida profissional, sou professora e decidi deixar algumas escolas e trabalhar, apenas, pela manhã ( horário que minha Cecília estaria na escola) e ficar todo o restante do tempo com ela. Não foi fácil, tive que fazer outro concurso público e recusar propostas para trabalhar à tarde! Somente nesse ano conseguirei trabalhar todas as manhãs, minha Cecília está com 7 anos e muito contente pois ficaremos mais juntinhas.. Agora penso nos próximos passo e acredito que eles estarão sempre ligados à ela!!!

    Um beijo!!

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    • Oi Marluce. Eu te entendo muito bem, e você está tomando uma decisão muito importante na sua vida. Eu e meu marido sempre conversamos sobre isso, de que temos que fazer as coisas de uma forma que ao olhar para trás, não nos arrependamos de nada. Ou seja, não quero me arrepender de não ter dado atenção para a minha filha. Sua filha deve estar muito feliz mesmo em saber que você passará mais tempo com ela. Um beijo.

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  3. Olá Yuka, esse texto veio de encontro com meu momento atual. Acabei de ser demitida do trabalho e estou revendo a vida. Estou encarando como uma oportunidade de repensar a minha forma de viver, meus hábitos de consumo e minha missão na vida. Com certeza, um período sabático . Sua visão me dá confiança para recomeçar. Beijos e obrigada pelo texto.

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    • Oi Fabiana. Não é fácil ser demitida, mas como você falou, o certo é olhar pelo lado positivo. É ter a oportunidade de repensar na vida, nas escolhas que você fez, tempo de se conhecer, de viver com menos. Meu marido também ficará sem trabalho a partir de março, mas ao invés de me desesperar, falei para ele aproveitar para estudar, aproveitar a licença maternidade comigo, cuidar da nossa bebezinha. Eu acredito que as coisas virão no momento certo. Boa sorte para você. Um grande beijo.

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