Dinheiro, IF e FIRE

Como poupar 70% do salário

Lucro, Empresário, Finanças, Calculadora, Moedas

Hoje vou compartilhar o caminho que eu percorri até chegar num ponto de poupar cerca de 70% da renda familiar.

Para os que me seguem recentemente e acham que vivo na miséria, segue um panorama geral da minha vida: moro em São Paulo, em um bairro de classe média, a 1 quadra de uma linha de metrô, sou casada e tenho 2 crianças pequenas. Tenho plano de saúde familiar, apesar de não ter carro, ando de Uber e alimento minha família com alimentos orgânicos. Não sou empresária, nem ganho um super-salário.

E o que eu fiz para conseguir poupar cerca de 70% da renda familiar?

Lembrando que há uma série de fatores que faz com que a pessoa consiga (ou não) fazer o que eu vou compartilhar aqui, desde valor do salário, o custo familiar, se precisa ajudar alguém da família, o bairro que mora, a cidade que mora etc. Então avalie as dicas de acordo com a sua realidade, ok?

1.) Anote todos os gastos de forma minuciosa

Anote tudo, tudo, tudo, desde a bala Juquinha até o eletrodoméstico que precisou trocar. Sem anotação, não terá como fazer o diagnóstico da situação financeira. E sem diagnóstico, não dá para saber onde poupar e onde gastar. Faça disso um hábito.

2.) Crie grandes grupos de gastos

Agora que já temos listado todos os gastos, separe em grandes grupos.

Por exemplo:

Transporte = Uber, metrô, ônibus

Contas = aluguel, condomínio, luz, gás, internet, celular

Alimentação = supermercado, feira, açougue, padaria

Saúde = plano de saúde, remédios

Lazer = restaurante, cinema, viagem

Educação = escola, cursos, livros

3.) Faça uma análise de onde e como o dinheiro está sendo gasto

Agora que os gastos foram classificados em grandes grupos, você terá uma noção de quanto se gasta em cada grupo. Avalie onde está sendo gasto o seu dinheiro. Vai se surpreender o quanto gasta em lazer, o quanto gasta em alimentação e no transporte, ou até mesmo em coisas que nem julga ser prioridade. A partir do momento que entender onde o seu dinheiro é gasto, poderá avaliar como está sendo gasto. Será que o Uber está sendo utilizado mais do que o necessário? Será que está indo a restaurantes numa frequência muito maior do que o esperado por mês? Só você poderá ter essa resposta.

4.) Estipule cotas mensais

Estipule um valor mensal a ser gasto em cada grupo.

Se decidiu que o teto mensal para gastar na alimentação será de R$1.000,00, dê os pulos necessários para alcançar a meta. Vale ir na feira, eliminar desperdícios, procurar promoções nos supermercados, fazer estoque de alguns produtos que não são perecíveis etc.

Faça a mesma coisa em todos os outros grupos como Lazer, Transporte, Educação…

O truque é estipular um teto de gasto mensal. Quanto quer gastar na alimentação? E no transporte? E no lazer?

5.) Seu companheiro é do seu time, e não o seu adversário

Você deve conhecer aqueles casais que possuem tudo separado, conta separada, investimentos separados, um não sabe o que o outro faz com o salário que recebe.

Quando a gente une forças e passa a remar no mesmo ritmo, o barco anda muito, muito mais rápido.

Meu marido acredita tanto no meu projeto FIRE, que faz de tudo para me ajudar a tampar os ralos dos gastos desnecessários, para que possamos gastar em coisas que traz felicidade para a família.

6.) Comece poupando 10% (ou com qualquer porcentagem que conseguir)

Ninguém ‘normal’ consegue poupar 60% a 70% do salário assim, de cara (a não ser que a pessoa ganhe um super-salário). É um processo que demora anos, e também reconheço que não é todo mundo que conseguiria fazer isso, pois dependeria muito do valor que recebe de salário. Comece com 1%, 5%, 10%, e vá aumentando aos poucos.

7.) Toda vez que tiver um aumento de salário, finja que nada mudou e poupe a diferença que recebeu a mais

Vou dar um exemplo do que aconteceu mês passado. Meu marido foi contratado por uma Universidade e ele teve aumento salarial, mas nós continuamos com os nossos gastos de sempre, fazendo o que sempre fizemos. A única coisa que mudou na nossa rotina do mês anterior para esse mês foi no valor do aporte que aumentou.

8.) Toda vez que receber o 13 salário, poupe

“E vou pagar o IPVA como?”, “Vou viajar como?” Bom, temos o ano inteiro para planejar, então não conte com o dinheiro do 13. salário.

9.) Toda vez que receber restituição do imposto de renda, poupe

O mesmo conselho que o item anterior.

10.) Toda vez que alcançar a meta anterior, tente superar no mês seguinte

Faça avaliação constante para ver onde há ralos nos gastos. Aprenda a substituir os gastos, sem diminuir a qualidade. A intenção aqui não é economizar por economizar, e sim, eliminar apenas os gastos desnecessários.

11.) Faça revisão do orçamento sempre que puder

Eu faço sempre. Toda vez que o mês termina, eu avalio os gastos do mês anterior, e analiso onde eu abusei, se comprei coisas sem necessidade, se comi demais em restaurantes, se gastei além da conta no lazer… Fazemos essa revisão orçamentária com o único intuito de usar o dinheiro de forma inteligente. Às vezes, isso significa gastar mais no mês atual, por termos economizado muito no mês anterior.

12.) Aprenda a viver com o suficiente

Todo excesso gera desperdício. Não compre comida em excesso, não compre mais roupas do que consegue usar, não compre mais sapatos do que consegue calçar, não more em um apartamento grande que não consiga limpar sozinho. Avalie seus excessos e viva com foco no que é essencial para você.

13.) Aprenda a fazer as coisas por conta própria

Aprenda a consertar coisas básicas. Aprenda a cuidar da sua casa vendo vídeos no YouTube. Aprenda a fazer pequenos consertos na roupa. Aprenda a cozinhar pelo menos o básico. Aprenda a cuidar de si mesma (cuidar do cabelo, da pele, unha, pés, hidratação etc). Aprenda a limpar a sua casa.

E como arranjar tempo para fazer tudo isso se o tempo já é tão escasso?

Ué, é só deixar de acompanhar a vida dos outros pelo Facebook, Instagram, WhatsApp, assistir televisão ou perder horas navegando na internet, que tenho certeza que vai começar a sobrar mais tempo.

14.) Saiba a diferença entre padrão de vida e qualidade de vida

Padrão ou nível de vida se refere à qualidade e quantidade de serviços disponíveis a uma pessoa ou a uma população inteira. (Wikipedia)

Qualidade de vida leva em conta não só o nível de vida material, mas também fatores mais subjetivos envolvidos na vida humana, como lazer, segurança, recursos culturais, de saúde mental, etc. (Wikipedia)

Eu e meu marido aumentamos sempre a qualidade de vida, raramente o padrão de vida. As pessoas não entendem como a gente consegue viver bem e poupar bastante, mas o segredo é esse: colocamos como prioridade a qualidade de vida da família.

Ao invés de morar longe do trabalho e ter um carro, decidimos morar perto e eliminar o gasto do carro. Assim, com o dinheiro que eu não gasto com o carro, eu consigo pagar a diferença do valor do aluguel do meu apartamento em um bairro bom. O fato de morar em bairro bom acaba me permitindo economizar em outras áreas, como na escola e no lazer, já que há praças, parques, centros culturais, bibliotecas, SESC etc à disposição.

15.) Seja sincero: é necessidade ou ostentação?

Toda vez que eu compro algo, faço a seguinte pergunta: é necessidade ou ostentação? E não vale mentir, dizendo que algo é necessidade, sendo que é ostentação. Eu não tenho necessidade de ter, nem de ostentar, nem de mostrar, nem de provar. Eu tento viver a minha vida da melhor forma possível, e nem sempre isso significa abrir a carteira.

Posso dizer que eu e meu marido estamos muito satisfeitos com a vida que temos hoje.

~ Yuka ~

Dinheiro, IF e FIRE

O ponto de virada: quando comecei a buscar a Independência Financeira

 

Nevoeiro, Amanhecer, Aves, Árvore, Estética, Pôr Do Sol

Acho que todo mundo que busca alcançar a Independência Financeira tem uma história boa para contar. Comigo não é diferente.

Desde que passei a ter um emprego, poupava um pouco todos os meses. Não tinha grandes objetivos, pensava em talvez comprar um carro e uma casa própria antes de ter filhos e só. Por justamente não ter objetivos financeiros, gastava meu dinheiro com facilidade, comprando roupas, presentes, restaurantes, viagens…

“Investia” o que sobrava no meu banco, e aconselhado por experientes gerentes, após recomendação de riqueza garantida, cheguei a ter título de capitalização e previdência privada, para “garantir um futuro tranquilo para mim e para as futuras gerações”.

A vida era boa (pelo menos eu achava assim) e tudo ia caminhando bem.

Até que minha filha nasceu e minha vida virou do avesso…

Não queria mais trabalhar, queria estar com ela. Não queria deixa-la na creche, nas mãos de pessoas que nunca tinha visto.

Chorei muito. Minhas amigas me consolavam dizendo que a vontade de trabalhar iria voltar até o fim da licença-maternidade. Mas essa vontade não voltou até hoje (e olha que minha filha mais velha tem 4 anos).

Comecei buscando respostas na internet colocando perguntas aleatórias como “como não precisar trabalhar”, “como viver de renda”, “como se aposentar mais cedo” etc. E foi aí que encontrei o termo FIRE (Financial Independence Retire Early) e tudo passou a fazer sentido.

Comecei fazendo umas contas no papel, depois fui para calculadora de juros compostos e ao ver o valor final, não conseguia acreditar nos resultados. Como assim, juntar 200 mil e ganhar 800 mil de juros compostos? Como assim, juntar 400 mil e ganhar 4 milhões de juros compostos? A única variável que mudava era o tempo. Quanto mais tempo, mais os juros compostos faziam o seu magnífico trabalho.

Descobri a TSR (Taxa Segura de Retirada) de 4%, muito comum entre FIREs, e com isso descobri o meu próprio número mágico para correr atrás.

Com a calculadora, vi que era altamente possível alcançar FIRE em alguns anos.

Mostrei para o meu marido (cético como todo físico) todo o raciocínio do Movimento FIRE, mostrei o meu plano, o resultado na calculadora, e vi seu rosto clarear. Sim, era a confirmação que eu precisava de que realmente era possível.

Desde 2010 eu e meu marido já poupávamos, e a partir de 2015 passamos a investir pesado. No total, são 9 anos de muita dedicação: 5 anos poupando e 4 anos sabendo exatamente para onde estamos caminhando e para onde queremos chegar.

Já ouvi mais de uma vez que precisamos escolher em qual década pouparemos mais e investiremos para garantir um futuro melhor.

Ao fazer uma simulação/previsão, percebi que a minha década de “sacrifício” já havia passado, já que estou no nono ano. Isso significa que a fase mais difícil já passou, sem nem ao menos ter tido essa noção de sacrifício.

Saber que em breve terei a minha liberdade de Tempo, me faz andar a passos largos.

Apesar de todo o esforço, não precisei abrir mão das coisas mais importantes da minha vida. O que fez diferença na minha vida foi ter aprendido a fazer escolhas inteligentes.

Para quem busca a Independência Financeira como eu, qual foi o seu ponto de virada?

~ Yuka ~

 

 

 

 

Dinheiro, IF e FIRE

Investir 10% do salário? Não, obrigado!

 

Captura de Tela 2018-05-28 às 01.15.00

Quantas vezes já lemos nos jornais e nas principais revistas de finanças de que precisamos poupar 10% do nosso salário?

Sinto te informar, mas esses 10% mensais poupados, só trará uma única certeza: da necessidade de trabalhar a vida inteira para conseguir se aposentar por conta própria. Ou melhor, precisará trabalhar por 51 anos (ou até mais, se comprar uma casa ou um carro) para conseguir alcançar a independência financeira (quando os rendimentos recebidos dos investimentos forem suficientes para cobrir os gastos mensais).

Se um jovem, na melhor das hipóteses, começar a trabalhar aos 22 anos de idade, uma idade em que geralmente está se formando na faculdade, isso significa que só conseguirá alcançar a independência financeira aos 73 anos de idade.

Esse ‘número mágico’ dos 10% em que é insistentemente publicado em todas as mídias e repetida de forma vazia por toda a população, tem um grande preço: se tornar um escravo pagador de contas.

No site do AA40, há uma tabela que mostra os anos que precisamos trabalhar conforme a porcentagem que poupamos:

independencia financeira

Quando eu digo que vivo com cerca de 50% do nosso salário, significa que aposentaremos em pouco menos de 17 anos (como eu já iniciei essa jornada há alguns anos, agora falta bem menos tempo). Quando comento isso entre os amigos e colegas, a maioria das pessoas são céticas e alguns até acham que eu estou postergando meu prazer de viver.

O que eles não entendem é que eu vivo muito bem e não postergo nada. Só que ao invés de viver em um padrão de vida superior e de luxos (que sinceramente, não acho necessário), preferi escolher o minimalismo como base da minha vida.

Para quem não sabe o que é o minimalismo, em uma frase curta, significa dar prioridade ao que é importante e eliminar todo o resto. Ou seja, por que eu daria prioridade para o que não é importante na minha vida? Quando as pessoas falam que eu estou postergando a minha vida por ser econômica, eu só consigo compreender essa fala dessa forma: “por que você não gasta em coisas que não são importantes para você, só para rasgar dinheiro, assim como eu faço?”

Muitos preferem viver como vivem, gastando de forma irresponsável por décadas. Eu preferi seguir meu estilo de vida minimalista por 15 anos e me tornar livre financeiramente. Se eu viver até os 90 anos, significa que serei livre por 40 anos, além de permitir que minhas filhas também sejam livres e suas próximas gerações.

Esse estilo de vida não é por falta de opção, é por pura e simples opção de viver bem. Reconhecemos esse estilo como nosso estilo e não sentimos que estamos fazendo esforço ou passando vontade. Só gostamos das coisas simples.

Isso tudo só é possível porque descobrimos a nossa suficiência. Para quem tiver dúvidas em relação a suficiência, escrevi estes posts há algum tempo:

Suficiência = Gratidão

A linha tênue entre ostentação e satisfação

~ Yuka ~