Auto-Conhecimento

Trabalho: como escolher o seu

ikigai-o

A leitora Cláudia me pediu um post sobre como escolher um trabalho legal, que se encaixe com os nossos valores.

Apesar da pergunta ser difícil de responder, vou compartilhar com vocês a minha opinião sobre esse assunto.

Eu sempre quis ser veterinária desde criança. Eu era a criança enlouquecida que corria atrás dos gatos, pombas, cachorros, peixes etc. Tenho uma coleção de fotos que tirei ao longo de toda a minha vida, durante as viagens que fiz. Tenho fotos com jacaré, nadando com boto cor-de-rosa, tirando uma selfie com um caranguejo azul, penteando o “cabelo” do pônei, dando frutas para um macaco, guaxinim, e por aí vai. E por causa dessa paixão, quando era mais nova, fui trabalhar em uma clínica veterinária que tinha um pet shop acoplado. Pois bem, como era de se esperar, a realidade era bem mais dura do que eu imaginava. A clínica onde trabalhei (e adotei a minha falecida cachorrinha que viveu por 19 anos), tinha uma postura exemplar: uma médica veterinária carinhosa, humana e que por isso mesmo adotava (ou sacrificava em último caso) todos os animais que eram abandonados na frente da clínica.

Eu chegava na clínica e começava a tremer quando via uma caixa de papelão bem na porta de entrada. Eu sabia que tinha algo vivo ou morto lá dentro. Em uma das dezenas de casos de abandono, a médica havia adotado uma cachorra da raça doberman (para quem não conhece, é enorme) que havia levado um tiro na coxa e tinha virado paraplégica, ou seja, não movia mais as pernas. Era o meu papel limpar o curativo (que nunca cicatrizou), levantar a cachorra pesadíssima pela barriga e dar uma volta pelo quintal para que ela pudesse passear, interagir com os outros cachorros, fazer as necessidades etc. E a duras penas eu percebi que a profissão, como tantas outras, era muito mais difícil na prática do que na teoria.

A própria cachorra que eu adotei, a Gutinha, tinha nascido com um problema nas pernas, nasceu sem mover as pernas, e por esforço da médica que fazia hidroginástica e massagem diariamente, passou a andar tortinha. Ela havia sido adotada 5 vezes (por ser de raça), e foi devolvida as 5 vezes para o pet shop. Dava para ver a dor da rejeição nos olhos dela. Até que eu fui a sexta e última dona.

Foi nessa época que eu desisti de ser veterinária, e escolhi ser bibliotecária. Não por amor. Mas por achar que conseguiria um emprego fácil na era da informação e do conhecimento. Apesar da profissão ter as suas vantagens, não é o que aquece o meu coração, afinal, escolhi este curso aos meus 17 anos. Nesses 20 anos, eu amadureci e hoje, me conheço melhor.

O meu emprego me paga bem, sinto gratidão por tudo o que ele me proporciona. E por ele me pagar bem, aproveito para injetar boa parte do meu salário em investimentos, para que um dia eu possa me libertar do trabalho, e descobrir o que amo fazer, mesmo se ele não der retorno financeiro, já que dinheiro não será mais problema.

Escrevi tudo isso para dizer que na verdade, não há certo ou errado. Há escolhas que deverão ser feitas. Lembro que a minha irmã mais velha me recriminou quando eu era mais nova por ter feito uma faculdade que eu achava que me daria emprego, no caso a biblioteconomia. Ela falou que eu estava escolhendo uma profissão pelo dinheiro, enquanto ela estava escolhendo uma profissão por amor. Eu nunca tive dificuldades em encontrar emprego, muito pelo contrário, sempre tive oportunidades, trabalhei em empresas boas. Minha irmã, ao contrário de mim, escolheu ser arquiteta, e não conseguiu emprego depois de formada, foi estudar e trabalhar no Japão e mudou de área de trabalho. Então são escolhas que temos que fazer.

Hoje, se eu pudesse dar um conselho para as minhas filhas, eu daria 3:

1.) faça o que ama, mas aprenda a se sustentar sozinha. Muitas vezes, fazer o que ama, pode não dar dinheiro, mas se essa for a sua escolha, tudo bem.

2.) faça o que o mercado de trabalho precisa e que pague bem. Se trabalhar bem e souber investir, em 10 anos, será livre para fazer o que ama pelo resto de sua vida.

3.) se souber o que ama, mas não tiver condições financeiras, “pause” a sua paixão e faça o que o mercado de trabalho precisa. Trabalhe bastante e poupe bastante para somente depois fazer o que ama.

Para as pessoas que já nascem sabendo que querem ser médicos, engenheiros, artesãos, atores, empreendedores, acredito que a primeira opção é a melhor escolha. Para os que não sabem o que querem, ou que não encontraram a paixão (que era o meu caso), a segunda opção pode ser a melhor escolha. Eu, sem querer, acabei fazendo a escolha certa: eu escolhi a segunda opção. Aos 17 anos, eu não sabia o que gostava, quais eram as minhas paixões. Na verdade, tenho diversas paixões, o que complicava ainda mais a tomada de decisão.

A escolha será sempre unicamente da pessoa. Como disse anteriormente, não há uma receita mágica, nem certo ou errado. Basta somente compreender que para cada escolha feita, diversas renúncias deverão ser feitas.

Faça a escolha que fizer mais sentido para você.

~ Yuka ~