Auto-Conhecimento

Casal que rala junto, cresce junto

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Eu e meu marido somos o típico casal que estamos sempre ralando juntos.

Quando nós começamos a namorar, eu morava em um apartamento alugado. O apartamento ficava no último andar, e tinha um quintal, ou seja, morava em uma cobertura. Só que esse apartamento não tinha nada de glamour, aliás tinha dois detalhes: 1.) o aluguel era barato; 2.) ele estava detonado.

Hoje, é até difícil de acreditar, mas quando chovia, simplesmente chovia dentro de casa, pelas frestas das portas e janelas. Secar o chão com pano de chão era uma missão quase impossível, eu tinha que trazer todas as minhas toalhas de banho e um balde para segurar a inundação. Em dias de temporal, lembro das cenas em que eu e meu marido (na época, namorado) ficávamos enxugando as paredes e o chão, tentando conter a cachoeira que descia pela fresta da porta do quintal.

O apartamento todo tinha frestas consideráveis nas janelas e nas portas. No inverno rigoroso, passávamos tanto frio dentro de casa que meu marido falava que queria entrar na geladeira para se esquentar um pouquinho. Por várias vezes, quando saíamos de casa, ficávamos perplexos quando percebíamos que a rua estava mais quente do que dentro de casa.

Mas eu fui muito, muito feliz lá. Tanto, que mesmo todos dizendo para eu não comprar, eu comprei esse imóvel por um preço muito justo quando a proprietária perguntou se eu tinha interesse. Contratei um ótimo pedreiro e reformei tudo, desde piso até as janelas. A reforma ficou tão boa que meu marido falava que era o melhor apartamento que tinha morado até então.

Ele quase branco de tanta poeira da obra, me ajudou a limpar a casa que na época nem era dele. Foi enquanto morava nesse apartamento que a minha primeira filha nasceu. Como o apartamento era de 1 quarto, resolvi vender e voltar a morar de aluguel.

Ele recebia sua bolsa de doutorado, e mesmo não ganhando muito, já poupávamos pensando no nosso futuro. Para economizar, nós pintávamos as paredes, montávamos os móveis que comprávamos pela internet, carregamos muitas vezes os móveis pequenos no metrô para economizarmos no frete, pois o dinheiro era muito contado.

E que fique bem claro… eu sou a mestre de obras e meu marido é o ajudante. Eu faço a instalação das prateleiras, a montagem dos móveis, instalação das cortinas etc. Ele é o ajudante que limpa a sujeira que faço. E achamos isso lindo. Cada um faz o que tem mais habilidade.

Aliás, todo mês quando ele recebe o salário, separa uma pequena parte do que chamamos de mesada e que já virou uma piada interna. Ele transfere integralmente seu salário para a minha conta bancária, para que eu possa aplicar nos investimentos. Agora eu pergunto: que marido permitiria fazer isso? Trabalhar o mês inteiro para transferir todo o salário para a esposa? Sim, ele faz isso, porque temos objetivos em comum, ele acredita no meu sonho.

Eu e meu marido desde o início ralamos juntos. Aliás, quando as nossas filhas nasceram e eu queria estudar sobre investimentos, foi ele que se prontificou em colocar as crianças para dormir e a limpar a casa para que eu pudesse ter tempo para estudar. Enquanto ele lavava o banheiro e estendia as roupas no varal, eu estudava ferozmente, das 20h à 1h da madrugada.

Era ele que fechava o meu notebook e colocava despertador no meu celular para o dia seguinte, quando eu adormecia na cama enquanto estudava.

Quando vejo as minhas fotos de 4 anos atrás, quando ainda não tínhamos as nossas filhas, vejo como éramos jovens, e percebo como a maternidade acelera o envelhecimento. Até brincamos que éramos bonitos e não sabíamos. Mas a parte boa é que nós dois envelhecemos, e não só a mulher, como costumo perceber. Rimos das nossas rugas novas e das nossas olheiras, sinal da falta de sono e cansaço. Sinto um certo orgulho de saber que novamente, estamos ralando juntos.

Aliás, meu marido passou em um concurso para professor visitante de uma universidade pública, em um contrato de 2 anos. Ele chorou. Eu também chorei. A conquista dele é conquista minha. A alegria dele é a minha alegria. Sei o quanto batalhou para esse momento chegar.

Durante os 9 anos que estamos juntos, sempre dei força para ele continuar na área da pesquisa, mesmo sendo tão difícil ser bem remunerado, e a cada 2 anos ficarmos com a sensação de que “desta vez não vai dar certo”. Falava para ele aproveitar que eu sou concursada e que tenho estabilidade.

Mas quem mais abriu mão da carreira não fui eu. Foi ele. Ele é campeão de desistir de boas oportunidades na carreira por mim.

Hoje, posso dizer que vivemos uma vida confortável. Depois de diversas escolhas que fizemos, de contarmos moedas, de juntar os esforços para aumentar os aportes, estamos cada dia mais tranquilos com a reserva financeira que temos criado.

A cada ano que passa, estamos mais unidos, mais fortalecidos como casal. Temos mais maturidade, mais companheirismo, mais amor e respeito pelo outro.

Nós dois crescemos. Nós dois amadurecemos. Nós dois abdicamos de muitas coisas por ter decidido ter filhos. A parte boa é que sempre estamos juntos, na alegria e na tristeza. Na pobreza e na riqueza.

Sempre achei que por trás de um casal que rala junto, tem sempre uma linda história de superação e de amor para contar.

~ Yuka ~

Auto-Conhecimento

A importância de uma amizade

best friend

O leitor Julio me pediu para falar sobre amizades, sobre a cobrança que sentimos em relação a quantidade, e não qualidade.

Sabe que eu nunca me importei em ter muitos amigos? Há alguns anos, quando trabalhava numa empresa privada, conheci uma pessoa que era muito simpática e amável. Era a alegria de uma roda de conversa. Ela me chamava de amiga, e juro que tentei ser amiga dela, mas ela nunca tinha tempo para mim. Ela sempre tinha compromissos, ia para barzinhos e baladas nos fins de semana, sempre rodeada de pessoas e eu não conseguia ter uma conversa mais séria com ela. Ou seja, se eu estivesse passando por algum problema, ela não poderia me dar atenção, pois ela estava sempre ocupada para atender todos os seus amigos.

Se eu tenho 24 horas e ela também, não entendia como ela conseguia administrar tantas coisas e tantas pessoas nas mesmas 24 horas. Depois de um tempo eu descobri a resposta: ela não conseguia.

Veja bem, há tipos e tipos de pessoas. Eu descobri que eu não era o tipo de pessoa que conseguiria administrar 100 melhores amigos. Eu tenho um limite para conseguir dar atenção a todos.

Entendi que para dar atenção aos meus amigos, eu precisaria deixar de lado as amizades superficiais. Comecei fazendo pequenos testes… e se eu não ligasse mais, o que será que aconteceria? E a resposta foi: nada. A pessoa também não me ligou, o tempo passou e a amizade esfriou. Ou seja, eu não era importante. Aos poucos fui entendendo a diferença entre amigos de verdade e o que chamo de colegas.

Eu tenho vários colegas, mas poucos amigos.

Esses poucos amigos que tenho, são os que eu chamo de irmãos de alma. São pessoas que escolhi para caminharem junto comigo, são pessoas que irão envelhecer comigo.

Muitas pessoas dizem que amigo de verdade é aquele que segura a nossa mão quando estamos tristes. Eu discordo. Amigo de verdade é aquele que consegue ficar genuinamente feliz com as nossas conquistas. Quando eu passei no concurso público, não foram todas as pessoas que ficaram felizes com a minha felicidade. Alguns, sem explicação, se afastaram de mim.

Para mim, amizade verdadeira não é aquela que fica passando a mão na cabeça. O verdadeiro amigo é aquele que por mais que doa, diz as verdades que ninguém mais tem coragem de dizer.

Quando eu era mais nova, recebi um conselho de uma amiga sobre a importância de não esquecer os amigos (que é minha amiga até hoje – alô Dani!). Me ensinou que os relacionamentos vêm e vão na nossa vida, mas que a amizade permanece. Era no ombro dela que eu choraria e nos braços dela que eu sempre voltaria. Foi graças ao conselho dela que eu namorei, casei, divorciei e casei de novo, e todas as minhas amigas sempre estiveram do meu lado.

Algumas delas moram em outras cidades, pois cresci em Santos, estudei no interior de São Paulo e moro na capital, mas a distância nunca impediu que a amizade se dissolvesse.

Aos que não dão valor a um amigo, sempre penso… Quem estará conosco quando os nossos pais falecerem? Quem irá nos visitar quando estivermos doentes? Quem fará companhia quando estivermos aposentados? Quem irá nos aguentar quando estivermos com 80 anos? Os amigos!

Depois que saímos da adolescência, fazer amigos se torna uma tarefa mais difícil. As pessoas parecem estar sempre ocupadas, não estão disponíveis o tempo todo. Então procure uma pessoa que esteja disposta a ser nosso amigo. E continue sempre fazendo isso, sempre procurando pessoas que estão dispostas a nos conhecer.

Mas não se esqueça, para ter amigos, precisamos primeiro nos doar. Mostrar que podemos ser um ótimo amigo. Dar oportunidade para a pessoa nos conhecer.

Num mundo onde as pessoas só querem falar e não têm mais paciência e disponibilidade para ouvir, ter amigos de verdade significa saber valorizar o que a pessoa tem a nos oferecer e ensinar.

~ Yuka ~