Auto-Conhecimento · Minimalismo

Quando a luz quase se apaga

Farol, Brilho, À Noite, Pôr Do Sol, Oceano, Mar

A pandemia iniciou em março de 2020, e eu tive o privilégio de trabalhar de casa em um momento em que todos estavam apreensivos com o futuro. A chegada de um vírus mortal e desconhecido desestabilizou não só a mim, mas o mundo inteiro.

Vi colegas perdendo empregos, o salário sendo reduzido, pessoas próximas morrendo.

Me vi isolada com a minha família dentro de um apartamento, tinha medo até de ir no supermercado.

Eu cresci sem pai, e o único sentimento que eu tinha era de sobrevivência, eu não poderia perder a vida para Covid-19, não queria que minhas filhas crescessem sem um dos pais.

Ao contrário da maioria das pessoas que conheço, entramos em um isolamento social total que me afetou profundamente. Não encontrei mais a minha família, nunca mais encontrei meus amigos, não fui mais para shopping, cinema, restaurante, não fiz passeios, não viajei, não visitei ninguém.

Durante todo esse período, tirei 3 férias do trabalho, e em todas elas, permaneci dentro de casa.

Entendi que se eu podia trabalhar de casa, que pelo menos fizesse o isolamento social para fazer valer o que minha empresa tinha dado.

As pessoas próximas que me viram definhando aos poucos, falavam que eu deveria passear um pouco, fazer uma viagem em família, pensando na minha saúde mental. Mas não. Eu decidi permanecer em casa, apesar da minha saúde mental.

Enquanto isso, na empresa onde trabalho, vi meu trabalho aumentar.

Eu vivi o caos com 2 crianças pequenas trancadas dentro de casa sem poder ir para a escola enquanto eu tentava me concentrar para trabalhar.

De dia, trabalhava apagando incêndios pontuais no trabalho, enquanto cuidava e dava atenção para as minhas filhas, de noite eu sentava e começava a trabalhar. Ou seja, estava trabalhando de manhã, tarde e noite.

Eu trabalhava também enquanto cozinhava, deixando o notebook em cima da bancada da cozinha. Respondia mensagens de trabalho enquanto almoçava, e não foram poucas as vezes que eu simplesmente larguei meu garfo para resolver algum problema. O WhatsApp se tornou a nova forma de comunicação rápida, e com isso, era interrompida na hora do almoço, na hora em que estava no supermercado, na hora em que estava colocando minhas filhas para dormir.

Não sabia quando seria convocada para uma reunião emergencial, e comecei a tomar banho com o celular dentro do box do banheiro, sinal claro de que algo estava muito errado.

Eu comecei a acordar com taquicardia, e a primeira coisa que eu fazia ao acordar era esticar os braços para pegar o celular para ver se tinha algo emergencial. Outro sinal de que eu não estava bem.

Os meses foram passando e eu fui piorando.

Engraçado que na hora em que estamos no fundo do poço, nós não percebemos o quão fundo estamos.

Eu nunca havia passado por algo parecido.

Sair da cama se tornou um esforço hercúleo. Eu comecei a trabalhar da cama, o que pra mim, já era um esforço descomunal. Eu parei de me cuidar, queria ficar na cama o dia inteiro. Eu queria ficar sozinha, não queria mais conversar com ninguém, queria me trancar no quarto. E durante muitos meses, eu realmente fiquei assim. Havia uma névoa, uma nuvem cinza insistente que não saía de cima de mim.

Eu oscilava entre momentos sombrios e pensamentos confusos.

Esse blog era uma das poucas coisas que me deixava feliz.

E o meu marido?

Bom… meu marido assumiu praticamente todas as tarefas de casa quando eu estava completamente desorientada. Cuidou das crianças quando eu nem conseguia sorrir, respeitou todas as vezes que eu não queria falar com ninguém e me apoiou em silêncio quando eu nem sabia o que estava passando.

Aos poucos, fui melhorando, e há alguns meses, eu tinha percebido que aquela névoa que estava envolta em mim havia finalmente se dissipado. Eu estava secando a louça do jantar, e tentando lembrar… quando foi a última vez que havia secado a louça? Eu não conseguia lembrar. Quando foi a última vez que eu havia estendido a roupa no varal? Tirado o lixo da cozinha? Dado banho nas crianças? Trocado o lençol da cama? Eu não lembrava, porque eu não fazia mais, alguém estava fazendo por mim. E esse alguém era meu marido, e em nenhum momento ele me cobrou, ficou chateado ou bravo comigo. Ele só fazia em silêncio tudo o que eu não conseguia mais fazer.

Quando eu percebi isso, eu fui conversar com ele, e ele disse que “nós somos um time, quando um não está bem, o outro ajuda”. Não estamos falando de algo que durou dias, nem semanas. Estamos falando de algo que durou meses.

Para ele conseguir dar conta de tudo, algo teve que ser deixado para trás. E ele resolveu deixar o trabalho em segundo plano. Ele me disse que muitos projetos não puderam ser entregues, mas que não se arrepende, porque sabe que fez uma escolha: ele decidiu cuidar de mim. Disse que seu objetivo nesta pandemia eram dois: nos manter vivos e sair desta pandemia casado, e que modéstia à parte, estava se saindo muito bem.

A resposta dele lembrou o que uma terapeuta falou para mim quando estava tentando salvar o meu primeiro casamento. Que quando a luz de uma pessoa se apaga em alguns momentos sombrios da vida, a outra pessoa assume o lugar para estender a mão e guia-la, enquanto ela tenta se reencontrar.

Há 4 anos, escrevi um post sobre a minha relação com o meu marido. E já que continua tão atual, quero finalizar o texto de hoje com a mesma frase que finalizei o outro post:

Eu sempre acreditei que escolher a pessoa certa que vai caminhar com você, o que a gente chama de Vida, é o que faz a diferença se sua vida vai ser mais fácil ou mais complicada.

Viver Sem Pressa

~ Yuka ~

59 comentários em “Quando a luz quase se apaga

  1. Nossa Yuka, eu me vi nesse post. Durante essa pandemia, me vi trabalhando sem hora para iniciar e para acabar, descuidei da saúde, tive medo, adoeci. Mas, o que sem dúvida me ajudou a levantar foi meu esposo e meus pais.

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    1. Oi Rose, esse período não tem sido fácil, mas acho que a pior fase que eu me encontrava finalmente passou. Mas só percebi isso, quando o furacão já havia passado. Enfim, vamos tentando nos fortalecer, porque infelizmente, a pandemia vai continuar entre nós por muito tempo. Um beijo!

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  2. Yuka, o que vc descreveu aconteceu, acontece é acontecerá com a grande maioria das pessoas nesta pandemia. Posso dizer que, por total sorte, de um namoro de adolescentes, aos 17 anos, comecei a namorar minha esposa. Tenho 48 anos e só posso dizer que a sua escrita final é a mais pura verdade. Hoje, 31 anos juntos e com uma filha de 13, só agradeço ter encontrado alguém como ela e espero que ela sinta o mesmo para comigo. Que um dia possamos passar na casa de vcs e conversarmos tomando um chá ou um café.

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    1. Oi Anon, a frase final é o que acontece mesmo, né? Nossa vida se torna mais fácil, por ter escolhido a pessoa certa para compartilhar nossa vida. Tenho lido diversos relatos na internet, de pessoas que se separaram nessa pandemia, e quando vejo os motivos, muitas vezes, é bem parecido com o que estamos passando em casa (home-office, com crianças, revezamento de turno para conseguir trabalhar etc). A única diferença é que eu e meu marido sabemos que é uma fase, e que estamos juntos para enfrentar essa fase de pandemia. Ter apoio é fundamental, porque a vida é feita de ciclos, e se uma hora estamos felizes, outra hora podemos estar tristes, e parceria é para todos os momentos da nossa vida. Que lindo vocês terem 31 anos juntos, também quero ser assim. Beijos.

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  3. poxa Yuka…..q tristeza ter passado por momento assim, mas q bom q passou e vc agora está melhor…saúde mental é algo a ser levado MTO a sério….fico feliz q vc tinha um companheiro (digo isso pq qlq um é marido ou esposa, mas companheiro vai além de uma simples assinatura no cartório) q te ajudou e apoiou….q legal vc tb ter compartilhado isso, pq tem pessoas q passam pelo mesmo, sem a lucidez q vc teve…um abraço

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    1. Oi Anon, sim, nunca imaginei que passaria por algo parecido, já que passei uns maus bocados nessa vida, mas nunca tive depressão. A ajuda do meu marido foi fundamental para eu conseguir passar por essa fase, que não foi nada fácil nem para mim, nem para ele. Um grande beijo!

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  4. Mais um excelente post e que nos leva a reflexão, a pandemia nos trouxe inúmeros desafios principalmente para quem tem um olhar diferente para a vida, neste período sombrio, comecei a buscar uma outra forma de pensar e de agir a vida como o slow life e o minimalismo, foi nesta busca que conheci seu blog e estou gostando muito. Sempre me orgulhei de ser muito acelerado mais hoje isto não tem muito sentido, tento a cada dia cuidar mais das minhas relações, principalmente as familiares que são as pessoas que estão comigo nesta linda jornada chamada vida.

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    1. Oi Carlos, ser acelerado é bom, mas viver de forma tranquila é melhor ainda rsrs. Nesse mundo tão apressado, é como se estivéssemos a todo momento nadando contra a correnteza. Viver sem pressa é uma escolha consciente e diária, já que estamos sempre sendo puxados para a vida moderna e acelerada. Beijos!

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  5. Yuka!!!
    Fico imensamente grata a você e ao seu companheiro de vida por não deixarem a luz se apagar… mesmo com tantas dificuldades vocês continuaram brilhando e ajudando outras pessoas!
    As decisões que tomamos durante esta pandemia afeta de forma intensa nossa saúde física, emocional e mental, então precisamos escolher o que nos faz bem, além de nos manter vivos.
    Bete

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    1. Oi Bete, obrigada pelo carinho, já estou bem melhor, e consciente de que é preciso me levantar e não deixar a peteca cair. Foi uma fase bem nebulosa, algo novo para mim, pois sempre estive de bem com a vida, mesmo nos períodos que não eram tão legais assim. Mas é o que você disse, precisamos escolher o que nos faz bem, e nos manter vivos. Um grande beijo, querida.

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  6. Fico MUITO feliz por vocês 🤩.
    Tenho depressão e ansiedade e vivo em altos e baixos, mesmo com acompanhamento psiquiátrico e psicológico.
    Meu marido é um anjo que surgiu em minha vida em um site de namoro.Fique pasma eu também fiquei.😜Estamos a 5 anos juntos e a cada dificuldade que superamos juntos tenho mais certeza que escolhi um companheiro para a vida.

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    1. Oi Marcela, ter um parceiro compreensivo é tudo. A vida é feita de altos e baixos, e não somente de momentos bons. Então imagina a cada caída que a gente dá, a pessoa nos larga…. não ia ser fácil. Precisamos cuidar bem dos nossos maridos rsrs, porque encontrar alguém assim não é nada fácil rsrs. Beijos.

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  7. Me solidarizo com seus sentimentos. As coisas que vivi nesse período de pandemia até aqui não foram brincadeira. Tinha dias que eu queria apenas desligar. Trabalhar em casa com um bebê, no meu caso, é simplesmente impossível, a conta não fecha. Para algum lado vai pesar, e nesse caso o da mãe fica bem mais pesado.
    Que nós consigamos resgatar força do impossível para seguir remando. Dias melhores virão!

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    1. Oi Anon, trabalhar em casa e ainda ter um bebê é algo muito, muito difícil. Algumas pessoas pensam “mas você não dá conta nem das suas filhas?”, mas a questão é diferente, eu não estou em home-office, é um home-office de qualquer jeito, não tenho espaço para trabalhar, as crianças não estão indo para a creche, meu marido também tem que trabalhar, não podemos simplesmente fechar a porta do quarto e largar duas crianças pequenas na frente da televisão por 10 horas por dia. Eu e meu marido fazemos um revezamento maluco, ele trabalha de madrugada e de manhã, e eu trabalho de noite e de madrugada. Assim, de tarde, ficamos com as crianças. Ou seja, quando eu estou quase indo dormir, é quando meu marido acorda pra começar a trabalhar. Não é uma vida saudável, mas foi o que conseguimos fazer para que os dois conseguissem trabalhar. Torcendo para que dias melhores venham logo rsrs. Beijos.

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  8. Desejo que tudo fique bem, Yuka, e que bom que conseguiu compartilhar a situação que você passou, faz bem compartilharmos nossas dores e dificuldades, ninguém é forte o tempo todo e nem precisa ser. Essa pandemia exige demais de nós, fiquei trabalhando em home office desde o ano passado até agora agosto, nossa, mesmo eu que gosto de ficar em casa quase me afundei na depressão, tenho duas semanas trabalhando presencial e a minha cabeça está voltando ao normal, apesar do medo de ficar doente tenho me sentido bem melhor. Seu marido está de parabéns, fez o certo, não deixou a peteca cair, qualidade fundamental em um relacionamento é isso, conseguir ser forte quando o parceiro precisa. Beijos e fica na paz!!

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    1. Oi Cléo, também vou começar a trabalhar presencial a partir da semana que vem. Estamos nos preparando aqui em casa, porque não sei como meu marido vai fazer para trabalhar, agora com 2 crianças e sozinho em casa… Combinamos de que assim que eu voltasse pra casa, pegaria o “posto” de cuidar das crianças, preparar o jantar, dar banho nas meninas, assim, acredito que ele consiga entrar no quarto e tentar trabalhar um pouco, apesar de estar exausto. Vamos ver se vai dar certo. Se não der, precisaremos pensar em alguma outra forma pra não sobrecarregá-lo. Não é uma fase fácil, não é mesmo? Vamos seguindo em frente, sempre na medida do possível. Beijo.

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  9. Blogs como o seu expõem a vida real e isso é muito importante.
    A vida tem altos e baixos, mas devemos ficar atentos a nossa saúde, coisa que as vezes não fazemos. Ano passado tive sintomas de ansiedade muito por causa do trabalho, por querer fazer as coisas da melhor forma e trabalhar com gente que não está nem aí e nem ao menos tem respeito pelos outros. Não é fácil.
    Durante praticamente toda a Pandemia trabalhei normalmente, trabalho presencial mesmo e como sou caseiro tive minha rotina pouco alterada, sendo assim não tive maiores problemas.
    Hoje estou melhor, mas as limitações no trabalham continuam e não creio que mudem muito.
    Resta tentar levar da melhor forma ou mudar de emprego, coisa que não descarto.
    Bacana o fato do seu marido ter segurado as pontas. De uns tempos pra cá o papel masculino na sociedade vem sofrendo um baque estamos sendo tratados de certa forma como “descartáveis”, taxados como opressores, tóxicos, estupradores em potencial entre outras coisas, como se fossemos todos iguais. Seu post mostra o outro lado…
    O relato de outras mulheres acima também traz alento ao mostrar que os maridos delas também seguraram ou seguram a barra em situações similares.
    Quem pensa em se casar, quem tem esse plano pra sua vida tem que estar ciente que casamento também é isso aí, dividir os pesos, colaboração e paciência, por isso que apenas uma minoria de casamentos são bem sucedidos de fato, porque entre tantas outras coisas a minoria das pessoas quer encarar esses cenários.

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    1. Oi Anon, acredito que as pessoas não tenham mais a paciência de amadurecer um relacionamento. As pessoas querem uma pessoa já pronta, linda e maravilhosa, que seja perfeito, de preferência que ganhe um salário alto e já tenha carro e apartamento kkkkk e isso não existe. Existe a paciência, o cuidado, o amadurecimento, a cumplicidade, o crescer junto. Vejo muitas pessoas falando para mim, “ah, você tem sorte de ter o seu marido que cuida tão bem de você”, mas aí meu marido replica “mas você ficaria com alguém que não tem emprego, que está com uma bolsa de pesquisa?” e aí geralmente as pessoas declinam, porque não querem alguém instável financeiramente. E aí meu marido fala que ele cuidar tão bem de mim é mérito meu, porque eu nunca liguei para isso, sempre tivemos a cabeça de que tudo o que é meu é nosso, de crescermos juntos. Casamento é exatamente isso que você escreveu, “dividir pesos, colaboração e paciência”. Um grande beijo.

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  10. Oi Yuka, bom dia

    Eu já vi isso que você descreveu acontecer com pessoas muito próximas, em situações de muito stress, muito antes da pandemia. Reconheci de imediato os sintomas. Que bom que você está melhor agora, mas não pode descuidar. Quem tem tendência à depressão tem que estar sempre atento aos sinais. E quando no casal o outro não consegue assumir a rotina, às vezes acabam os dois doentes.
    A pandemia pegou todo mundo de surpresa, nos jogando numa vida que não queríamos, a maioria ao menos. E pelo que eu observei, quem tem filhos ficou acabou sofrendo mais, tanto pelo medo de ficar doente e morrer e deixar os filhos órfãos quanto pela sobrecarga em casa.
    Eu consegui colocar limites no meu trabalho, desde o inicio mantive o horario de trabalho equivalente ao presencial. Mas, né, sou funcionária pública, não tenho comissao, e o meu chefe aceitou esse esquema, até porque ele também tem horário fixo. E o meu marido tem um horário bem mais tranquilo que o meu, então fomos administrando a rotina. Mas no inicio eu me sentia invadida o tempo todo, parecia que tinha perdido toda privacidade. Sem contar a falta que eu sentia de ficar sozinha, sem tv, radio, ninguém perguntando nada. Entrei em uma especie de modo sobrevivência, eu só pensava que tinhamos que resistir. Mas agora que estou voltando aos poucos para a dita vida normal – minha filha voltou para escola, estou trabalhando alguns turnos presencialmente, estou vendo o quanto não quero a antiga vida de volta. Já estou com insônia de novo, eu que vinha dormindo bem, irritada, sem tempo para fazer exercício, e não sei disso tudo o que é causa e o que é consequência.
    Uma ótima semana para você e se cuida!
    Beijo, Daniela

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    1. Oi Daniela, eu fiquei surpresa, porque nunca tive depressão, e fiquei até imaginando que se para mim foi tão difícil assim, imagina as pessoas que já têm depressão? Não deve estar fácil para ninguém. Também percebi isso que você falou, que para quem tem filhos, foi mais difícil. Tenho alguns amigos que moram sozinhos, e para eles, foi muito bom esse período, pois estão conseguindo trabalhar bem de casa, e trabalham menos, já que não tem distrações, ou seja, sobra tempo para fazer outras coisas como ler um bom livro, assistir uma série, correr na rua, andar de bicicleta. Aqui em casa é justamente ao contrário, trabalho de noite e madrugada porque de dia é impossível trabalhar, sempre tive muita dificuldade de trabalhar com barulho, então nessa fase não é diferente. Sou que nem você, sinto muita falta de ficar sozinha, de ter um tempo só para mim, no silêncio, algo impossível nos dias de hoje rs. Meu café da noite com meu marido que eu gostava tanto foi para o espaço, porque hoje é ele que coloca as crianças para dormir, e já dorme até o dia seguinte, enquanto eu sento na cadeira para começar a trabalhar. E pelo jeito esse fase vai durar bastante, né? Porque a pandemia pelo jeito vai durar muitos anos… Um beijo pra você!

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      1. Yuka, o stress é um gatilho forte para depressão. Então não ter rotina, não descansar o suficiente, não ter um horário para a gente, tudo isso piora a situação. Eu tento criar um espaço mental para mim, já que o espaço físico anda difícil. Ter comprado uma bicicleta fez parte disso, às vezes saio sozinha uma hora e pouco no final de semana e diminui a pressão. Eu lembrei de um comentário que você fez um tempo atrás sobre a carga mental das mulheres, que sempre é maior que a dos homens, porque a gente tende a achar que tem que dar conta de tudo. Com a pandemia, essa carga aumentou ainda mais porque o medo e a ansiedade ocuparam um espaço enorme na nossa cabeça, e a gente tentou conciliar esse medo e ansiedade com todo o resto que já dava conta antes. E né, como alguém comentou aqui, a conta não fecha, e não vai fechar nunca. Eu acho que ter filhos não é compatível como o nosso modo de vida atual. Cuidar de criança pequena, da casa, e trabalhar 40 horas por semana sem ajuda é impossível (isso quando são 40 horas, né). Então tem a creche, a escola, a avó que ajuda, a babá para ficar com as crianças pequenas. E sempre vai ter um lado do casal (quando ainda é um casal) que vai deixar o trabalho em segundo plano, porque pode fazer isso sem perder o emprego ou porque tem um trabalho mais tranquilo e/ou flexível. Com a pandemia isso ficou completamente escancarado, ao menos para aqueles que levaram o isolamento a sério. Eu também acho que é ingenuidade achar que as pessoas vão sair melhor disso, se eu não sair pior, acho que estou no lucro.
        Sobre as pessoas que mostraram a sua verdadeira natureza, eu já sou bem antissocial então não me surpreendi muito, é difícil eu me iludir. Já tinha eliminado muitos convívios forçados da minha vida, e deixado só as pessoas com quem eu me dou melhor, que são bem poucas.

        beijos,

        Daniela

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        1. Oi Daniela, lendo seu comentário, ainda lembrei de muitos casamentos que acabaram na pandemia. Às vezes leio alguns relatos aqui e ali dos famosos que se separaram, e até comento com o marido que eles se separaram pelo que já acontece aqui em casa, como a rotina do teletrabalho que não tem sido bacana, e aí eu e meu marido precisamos nos revezar para trabalhar, então basicamente quando um acorda o outro vai dormir. Para que isso seja possível, o marido vai dormir com as crianças pra eu conseguir trabalhar, ou seja, meu amado café da noite com o meu marido já foi para o espaço faz tempo. Espero um dia poder recuperar esse meu tempo com ele. Também não acho que as pessoas vão mudar, muito pelo contrário, estão mostrando para que veio. Esta pandemia mostrou o que as pessoas escondiam por muito tempo… a individualidade, o “foda-se” o coletivo, o querer levar vantagem nas coisas, a indiferença no sofrimento alheio… é algo que ainda vou levar um tempo para digerir, porque ainda não consigo me conformar como algumas pessoas próximas são desta forma…. Um beijo!!!

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  11. Boa tarde amiga linda, que post emocionante, terminei de ler com lágrimas nos olhos, creio que esse tempo foi difícil para todos nós, que bom que o seu marido ficou ao seu lado , decidiu te ajudar, te apoiar, também tenho um marido assim e todos os dias dou a graças a DEUS pela vida dele!!!beijosss, uma semana abençoada para vcs.

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    1. Oi Lindadrika, obrigada pelo carinho de sempre, estou bem melhor, cada dia melhorando um pouco mais, o apoio do meu marido realmente foi fundamental para que eu conseguisse me levantar. Espero que você também esteja bem, um grande beijo pra você.

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  12. Yuka, em primeiro lugar eu me solidarizo com sua dor. A pandemia definitivamente veio para virar nossa vida de cabeça pra baixo.
    Você viveu o lado do confinamento. Aqui em casa vivemos o outro lado. Nós dois trabalhando em serviços essenciais, sendo eu na área da saúde. Me vi numa espiral de loucura. Trabalhei lidando com centenas de pessoas a cada plantão, voltando para a casa as vezes na madrugada e ao chegar encontrava meu filho de apenas um ano e meio dormindo. O risco era enorme. Lidamos com a fragilidade das pessoas e ao mesmo tempo com a falta de responsabilidade doentia das mesmas. Meu telefone não parava, era de noite, de madrugada, enfim… Infelizmente as pessoas acham que por ter nosso telefone pessoal temos que responder questões de trabalho a todo momento. Não temos, ponto final. Coloquei um limite, dentro do horário de trabalho, respondo. Fora do horário terá que esperar até o dia seguinte. Tenho uma casa, uma família, um curso superior em andamento… As pessoas foram compreendendo, e quem não compreendeu foi bloqueado. Simples assim. Em meio a isso tudo sofremos um assalto com invasão a nossa casa e nós 3 de reféns. Quando não aguentei mais, saí sim ( e sairia de novo!). Para um local onde mantive todos os cuidados e sem aglomerações, e senti nas costas as críticas e hastags de quem tava recebendo seu salário em casa e sem trabalhar, com seu tempo livre pra criticar os outros e para ir a festas clandestinas. O que mais me doeu foi descobrir o quanto as pessoas são hipócritas. Muito hipócritas. Minha vontade eram mandar ir a mer… E quanto aos nossos parceiros, sou grata que num mundo onde tudo é descartável, inclusive as relações, tenhamos encontrado pessoas que estão dispostas a atravessar os momentos de tempestades conosco. Infelizmente, não é isso que o mundo incentiva. Embora não esteja muito otimista com o fim disso tudo, espero que passemos por tudo isso e que venham dias melhores. Um abraço com muito a você.

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    1. Oi Aline, mais difícil do que o que eu passei, eu imagino que tenha sido para vocês, profissionais da saúde e profissionais de serviços essenciais. Eu vejo as pessoas saindo sem máscara, se aglomerando, dando de ombro para essa pandemia, enquanto os profissionais da saúde arriscam a própria vida para cuidar da vida de pessoas que não estão nem aí. Meu primo era médico e morreu de covid no ano passado. Então quando vejo pessoas inconsequentes, eu fico com raiva, porque lembro de pessoas sérias que perderam a vida cuidando dessas pessoas irresponsáveis. Veja você, arriscando sua vida, e tendo seu filho de 1 ano e meio que precisa de você. Sobre as pessoas serem hipócritas, concordo plenamente. Foi difícil perceber isso entre as pessoas próximas. As pessoas começaram a justificar a saúde mental para fazer tudo. E ainda começaram a me taxar de maluca, por levar o isolamento social a sério. No final, acabei percebendo o que não queria perceber. Que brasileiro é um ser sociável, amigável, mas na hora que mais precisamos nos unir, é cada um por si. Não consigo imaginar tamanho desespero com vocês 3 como reféns na própria casa… Espero que agora esteja tudo bem com vocês. Um beijo Aline, fique bem.

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      1. Sou o anon 08:57 e comentei sobre perceber a real sobre algumas pessoas.
        Vou fazer um “desabafo” aqui.
        Desde o início da Pandemia principalmente quando as pessoas tinham mais medo da doença, muito se falou sobre quanto a pendemia poderia ser importante para que as pessoas passassem por essa situação e saíssem melhores.
        Dúvido que haverão mudanças significativas, no fim das contas com poucas excessões é cada um por sí e não importa tanto se você tem muitos contatos, pra jogar conversa fora, falar da vida alheia e outras besteiras há união, há interesse, quando é para resolver alguma coisa útil muitas pessoas simplesmente boicotam.
        Isso não é na Pandemia, é em tudo, no trabalho vejo isso a anos desde que comecei a trabalhar, na hora de bater papo e tomar cafezinho as pessoas são espertas, na hora de ajudar o colega, corrigir, instruir a maioria simplesmente ignora e outro que se f…, aí quando conversamos com as pessoas percebemos nas entrelinhas o quão falsas ou rasas são aquelas relações e o que rola por debaixo do tapete, “amigos” falando mal de “amigos” e por aí vai.
        Conheci um rapaz que morreu de Covid e não percebi nenhum impacto da morte dele em alguns de seus colegas, gente que conversava com ele, inclusive um colega meu que vivia pedindo favores reagiu de forma totalmente fria. Não sou um cara emotivo, sou um cara na minha, não sou simpaticão, mas isso mostra pra gente que não devemos esperar nada de ninguém, nada mesmo.
        A pandemia na realidade é só mais uma amostra disso, que pode despertar os mais ingênuos ou românticos, mas sei que nem todos tem estômago para encarar essa realidade.
        Por fim Yuka, aqui no Brasil, tratam pessoas mais quietas como antisocial, quem é discreto, não é grupos, incomoda, causa estranheza, e são costumeiramente tratados como antisociais. Pra mim antisociais são pessoas que não respeitam o espaço alheio, que acham que são donas do mundo, que podem fazer o que quiserem e não liga se vai ou não prejudicar alguém, são os asabotadores, fofoqueiros, causadores de intrigas entre outros.
        Mas esses caso sejam “simpáticos” ainda que falsos, ainda recebem aprovação social.

        Boa semana pra você.

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        1. Oi Anon, seu desabafo faz total sentido. No início da pandemia, também ouvi que o consumo das pessoas poderia ser revisto, que as pessoas passariam a olhar com outros olhos o consumo excessivo, a questão do status, porque muitos têm um carrão bonito na garagem, mas um lar desconfortável, e nesse período em que estamos mais tempo dentro de casa, seriam revistos as prioridades… não acho que isso vá acontecer não… acho que continuará exatamente a mesma coisa… você citou o trabalho e também percebi isso, o trabalho é afinal, como uma gangorra: “Onde há um folgado, há sempre um sobrecarregado”. Se parte da equipe não fizer o que todos devem fazer, a outra parte fica sobrecarregada. Vi pessoas dando de ombros, pouco se lixando se estava sobrecarregando o colega. E era bem isso que você escreveu, no final, apesar de parecer que todos estavam unidos, era um belo de um cada um por si. Tudo isso me deixou bem decepcionada, e indignada com muita gente. Mas enfim, cheguei a conclusão que essas pessoas não merecem a minha consideração. Boa semana pra você também!

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  13. Yuka, esse post me deixou sem respirar por alguns segundos. Li aflita. Te vejo tão forte e decidida, que as vezes esqueço que você é gente de verdade e tem problemas como qualquer um. Se sinta abraçada. Um dos abraços mais distantes que você vai receber hoje, mas com muito amor e admiração.

    Tudo pode ir ruim na nossa vida, menos nosso lar. Que benção seu marido priorizar isso. Muitos talvez reclamariam ou fariam de má vontade. Também sou abençoada com um marido que sempre é luz quando estou apagada… é nessas horas que vemos que fizemos a escolha certa.

    Estou feliz que está bem. E que compartilhou isso com a gente. Te admiro mais ainda agora. Como sempre você me inspira! Fica bem ♥️

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    1. Oi Tiemi, obrigada pelo abraço e pelo carinho, sei que é de coração. Ainda sinto que não estou 100%, mas já sinto que a cada semana estou um pouco melhor, o importante é que aquela nuvem cinza já não está mais em cima de mim. Espero que esteja tudo bem por aí também, afinal, ser mãe de 2 crianças pequenas não é uma tarefa fácil. Um grande beijo pra você.

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  14. Que reflexão maravilhosa! me identifiquei demais…chorei lendo, pois parecia tudo o que tenho vivido aqui. é sufocante a forma que as empresas estão lidando com seus colaboradores. Muito triste esse cenário! gratidão Yuca!

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    1. Oi Lais, pois é, o que aconteceu comigo não é nenhuma exceção, aconteceu com muitas pessoas, tem gente até em situações muito mais complicadas. O que nos resta fazer é pedir apoio das pessoas que confiamos e tentar nos fortalecer, pois este cenário ainda irá perdurar por alguns anos. Um beijo pra você e espero que você fique bem também.

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  15. Oi Yuka, não sei se já fiz algum comentário por aqui, mas já li esse blog de cabo a rabo. rsrs

    Antes da pandemia, eu já não estava legal psicologicamente e aí na pandemia eu virei a louca muito rápido e eu sou uma pessoa que curte ficar em casa e home office, era o meu sonho, mas com essa pandemia, virou meu pesadelo. Não conseguia desligar do trabalho e das notícias e meu chefe ainda tratava como se eu não estivesse fazendo o suficiente. Briguei com familiares que recebiam visitas e não se cuidavam direito. Um tempo depois, pedi demissão pq precisava de um tempo mas acabou que a minha substituta não deu certo e eu decidi continuar na empresa pq se não ia virar um inferno lá.
    Até que depois que decidi ficar, minha mente já estava melhor mas aí acontece o que? Minha mãe pega covid e falece. Logicamente fiquei muito abalada e comecei a me abater novamente. Agora estou aqui pensando em largar tudo de novo, me mudar para o interior e depois pensar em fazer outra coisa, sei lá…
    Felizmente também tenho um companheiro que está segurando a barra da minha loucura nesses tempos.
    Desculpa o desabafo aqui no seu post.
    E para vocês que tem filhos, meus parabéns viu? Acompanho a vida da minha irmã com um filho pequeno e o negócio está complicado nessa época mesmo. O único baby que tenho é a “herança” que minha mãe deixou, um doguinho que agora fica colado no meu pé 24h por dia. rsrs

    Aguardando por dias melhores para todos nós.
    Bjs

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    1. Oi MP, tudo bem? Obrigada pela leitura de cabo a rabo rsrsrs. Compartilho da mesma opinião que você, de que o sonho do home office se tornou um pesadelo nesta pandemia. Agora você ter perdido sua mãe para a Covid, sinto muito pela sua perda, é uma perda lastimável, e consigo compreender como isso desestrutura a vida de qualquer pessoa, com você não deve ter sido diferente. Acho que em certos momentos, nossas loucuras são permitidas sim, porque a carga de responsabilidade é muito grande… acabei não comentando no post, mas uma das coisas que eu parei de fazer quando estava mal pra caramba, era tomar banho… meu marido disse que eu ficava 10, 20 dias sem tomar banho… eu não lembro muito disso, porque não ficava contando os dias, mas eu simplesmente parei de me importar, eu nunca nessa vida fiquei assim, então o negócio foi brabo. Ter um companheiro que segura a barra nos períodos que não estamos bem (e isso pode ser desde uma TPM até uma depressão de meses) é algo muito valioso, pois nos mostra que apesar de tudo o que estamos enfrentando, o amor está lá, a mão está lá estendida para nos ajudar. Um beijo pra você, e seguiremos em frente, um dia de cada vez.

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      1. A parte de cuidados pessoais tb foi totalmente negligenciada aqui também.
        Vamos colocar um alarme pra tomar banho, cortar as unhas, etc?
        A que ponto chegamos hein Yuka!? Rsrs rindo de nervoso.

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  16. Boa sorte

    No começo da pandemia no ano passado , fiquei preocupado com a chance de morrer, mas desisti depois de contabilizar o custo real para realmente evitar o coronavirus (ficar preso dentro de um quarto sem janelas – quem mora em apartamento pode receber o virus dentro de casa pela ar q vem da janela, simples assim);

    resolvi ignorar tudo : andei sem máscara, participei de aglomeracoes, usei transporte coletivo regularmente. Peguei dengue, mas nao senti o covid

    A chance de morrer de covid sempre foi pequena na minha faixa etaria e nenhuma vacina hoje, 1 ano depois, oferece 100% de garantia contra essa morte

    Sem saúde mental, nao ha saude fisica
    Mens sana in corpore sano
    Por isso mantenho uma mini academia de musculacao em casa

    Muitas pessoas morreram literalmente por causa do medo de covid antes de pegar o covid de fato

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    1. Oi Scant, é, eu sempre soube que meu receio de morrer veio principalmente do histórico da minha vida, já que meu pai morreu quando eu tinha 3 anos, e minha mãe comeu o pão que o diabo amassou sem dinheiro. Então basicamente tudo na minha vida eu faço de uma forma que eu me arrependa o menos possível. Se eu sair sem máscara e uma das minhas filhas morrer, será que consigo levar isso sem culpa, ou eu me arrependeria para sempre? No meu caso, eu não conseguiria me perdoar. Então mesmo estatisticamente a chance da gente morrer sendo ínfima, eu tomo cuidados extremos, já que há casos de crianças que morreram com covid. Eu e meu marido até conversamos sobre isso, que já passamos por outras doenças (tipo Ebola, Zika Vírus, H1N1, gripe aviária), mas não éramos tão noiados, ficamos assim depois que as crianças nasceram. Cada um carrega o fardo que consegue aguentar, concordo que meu fardo anda bem pesado, mas pra mim, ainda é um fardo pequeno se comparado ao arrependido que posso ter lá na frente de não ter evitado algo evitável. Um beijo.

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      1. oi Yuka,

        Não tenho tanto medo em relação a minha filha, porque daí os casos são muito poucos mesmo. Existe um estudo da ufsc que está avaliando a hipótese que a vacina da catapora estaria protegendo as crianças e os adolescentes. Os casos de morte que eu vi envolviam comorbidades ou aquela síndrome multi inflamatória que pode ocorrer depois de outras viroses também.
        Eu não tenho essa história de perda familiar próxima mas também tenho medo de morrer e deixar a minha filha órfã. Por ela, e pelas pessoas que iam ter que terminar de criá-la. E não é só morrer, é sair do hospital precisando de ajuda para tudo. Quando ninguém depende da gente, a gente não pensa muito nisso, que pode ficar sequelado dando trabalho para os outros. Mas quando temos responsabilidade, e consciência dela, é outra história. Tenho conhecido de 29 anos que foi entubado, outra de 42 que faleceu. Prima de uma amiga, 48 anos, 2 meses na uti. Saiu cheia de sequela. Esposa de colega, 42, sei lá quanto tempo na uti, não conseguia nem andar quando saiu do hospital. Gente sem outra doença, só covid. Tem provavelmente algo genético envolvido, que não está bem claro ainda. O meu vizinho de porta faleceu, andava por tudo sem máscara, pouco se importando se podia contaminar os vizinhos que compartilhavam o corredor e o elevador ou os funcionários do condomínio. Ficou 3 meses na uti do melhor hospital da cidade, com o melhor atendimento possível. Eu não consegui nem falar com a mulher dele na época que ele morreu, porque ia me achar muito falsa de dizer que sentia muito, porque não senti. Era um egoísta que pouco se importava com os outros, por que eu me importaria com ele? Com certeza circulou contaminado porque o meu marido viu ele uns dias antes de ser internado, e comentou que estava sem máscara. Segundo as próprias filhas, ele não “acreditava” no vírus. Também tivemos um porteiro que faleceu sem conseguir atendimento, as utis no sus todas lotadas. Enfim, temos que administrar o medo e a ansiedade, porque eles fazem parte da nossa vida, e de alguma maneira, aprender a viver com isso.

        Fica bem, as coisas já estão melhorando, e com a vacina o nosso medo também vai diminuir.

        Beijo,
        Daniela

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        1. Pois é Daniela, também acho que deva ter alguma coisa com o DNA da pessoa, porque tem família inteira que morre, enquanto tem família inteira que pega e não acontece absolutamente nada. Como meu primo morreu, e foi meio que avassalador, causou dano irreversível no cérebro, então dá um medo, porque no final das contas, é uma roleta russa, a gente nunca sabe se vai acontecer algo com a gente.

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    2. Do jeito q esse mundo é maluco, nao duvido da possibilidade de que se infectar das cepas originais do covid traga algum beneficio futuro, quando chegarem as novas mutações

      Claro, desde q a pessoa esteja fora dos grupos de risco

      Por obvio, só estou levantando uma hipótese sem qq comprovacao cientifica

      “lá na frente de não ter evitado algo evitável” tomara q vc nao tenha tentado evitar o inevitavel

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  17. Que texto tocante, Yuka. SInto muito por tudo o que vc passou, mas fico feliz por você ter tido esse apoio incrível do seu marido. Não só por tudo o que ele fez, mas por fazer “em silêncio”, não deixando essa carga ainda mais pesada para você. Vou levar essa frase da luz para a vida. Espero que você fique ainda melhor, já que você já está se recuperando /\. Eu tive fases dentro da pandemia. E na pior fase o não pode arejar a cabeça com coisas externar foi o pior. Um dia meu psicólogo insistiu muito para eu ir caminhar, aceitei e parecia que era a primeira vez que via o mundo. Tudo me encantava…fazia semanas que eu apenas ia até a escada de incêndio do prédio 1 x por semana, para deixar o lixo. O resto eu estava literalmente dentro do apartamento, com a feira sendo entregue na minha porta, sem ver ninguém. Enfim, espero que você esteja vacinada e possa ter um pouco mais de liberdade.

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    1. Oi Diana, eu estava desse jeito também, a semana toda em casa com minhas filhas e meu marido, ainda faço isso de ficar em casa, mas levo as meninas para uma praça aqui perto nos fins de semana. A partir da semana que vem, retorno para o trabalho presencial, e com isso, eu resolvi comprar um carro. Vai ser bom, porque apesar do principal motivo de ter comprado o carro foi para manter o isolamento social de forma mais efetiva, vai abrir mais oportunidades para levar minhas filhas para passear de forma segura. E isso está nos animando, porque sei que será bom para nossa família. Semana que vem, vou escrever um post sobre esse assunto rs. Obrigada pelo carinho, viu? Um beijo!

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    1. Oi Nine, li seu comentário para o Fábio, e ele ficou todo contente, falou “É a minha amiga!!!” rsrs, o Fábio realmente é o cara, uma pessoa de um coração enorme e tenho uma sorte imensa de compartilhar minha vida com ele. Um beijão.

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  18. Yuka, querida. Aceite todo meu carinho e meu mais afetuoso abraço. Eu entendo o que passou, e toda a minha solidariedade é pouco para dizer o quanto tem de nosso apoio. Que post bonito, querida. Fiquei muito emocionada com essa potência do amor, mesmo nos nossos períodos de sombra. Lindo demais!
    Um enorme abraço!

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    1. Oi Isabela, obrigada pelo apoio e carinho. Não tem sido um período fácil para o mundo todo, e pelo jeito a pandemia vai durar um bom tempo ainda. Que tenhamos forças para continuar nos cuidando, né? Um grande beijo pra você.

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  19. Que bom que você viu e reconheceu tudo que seu marido fez por você. Quantas e quantas pessoas se doam para suas famílias e nunca recebem nada em troca?
    Sinta-se muito sortuda pelo marido que tem, é um achado viu!
    Parabéns.

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    1. Oi Cansada, tudo bem? Tem toda razão, muitas pessoas fazem muito pela família, e não recebem sequer o reconhecimento de todo o cuidado que recebe, de toda a doação de amor que recebe. E isso pode acabar desmotivando e desgastando o relacionamento. Digo que amor de marido é diferente de amor de filho, se a gente não rega e cuida, seca e morre rs. Beijos.

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  20. Oi Yuka, nossa, que situação… a gente aqui acompanhando o blog, nem deu para notar essa situação. Realmente o teletrabalho pode tomar conta, no sentido de não haver delimitações claras. Por aqui, passei a limitar o horário de resposta (no período da tarde), e auxiliou. Realmente é muito difícil viver em quarentena. Comecei uma terapia de constelação familiar por aqui, uma profissional maravilhosa, estou me dando uma oportunidade de resgatar e entender algumas situações…
    Se cuide, às vezes esses sentimentos vem e vão. Mas você é forte e tem uma família forte também.
    Torço que tudo melhore! Bjs

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    1. Oi Anon, pelas postagens do blog, não dava mesmo para saber, porque nem eu sabia o que estava passando direito rs. Obrigada pelo carinho, e cuide-se também, porque essa pandemia vai longe. Um beijo pra você.

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  21. Yuka, imagino como se sente. Mas vc não está sozinha. Também me vi num caos completo nessa pandemia.
    Trabalho em dois Pronto Socorros públicos. Presenciei coisas como nunca havia visto em 17 anos de trabalho. Cenários realmente desesperadores! Presenciei MUITOS colegas de trabalho serem infectados, internados, entubados e por fim, a pior das notícias! Fora os familiares que perdi.
    Algumas vezes parava tudo que estava fazendo, me fechava numa sala e chorava. Mas não dava muito tempo, porque eram muitos atendimentos a serem feitos. .
    E por se tratar de pronto socorros, não atendíamos apenas COVID, mas emergências de modo geral, como sempre houve. E assim eram os plantões de 12, 24 e até 36 horas seguidas. Gosto do que faço, mas confesso que nessas condições, não via a hora de chegar em casa. E para ajudar, em uma das instituições foi emitido um decreto anulando as férias dos funcionários da saúde, pois “traria prejuízo ao setor”, conforme alegaram.
    Nesse ponto, sem nem ao menos ter uma perspectiva de férias, me vi num buraco sem fundo. Recorri a psiquiatria. Foi o melhor investimento que eu poderia ter feito nessa pandemia! As coisas ainda não mudaram. A instituição em questão continua vetando nossas férias, alegando que o decreto ainda está em vigor. Mas, com tratamento, estou conseguindo contornar isso tudo.
    E além disso, meu marido, que também é meu melhor amigo, e minha fé religiosa me trouxeram esperança novamente. Sem essas três redes de apoio, nao sei como estaria nesse momento.

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    1. Oi Cintia, nossa, você trabalha em pronto-socorro… e ainda mais dois… eu não tenho ideia da pressão que vocês sentiram, lia as reportagens pela internet, olhava para as fotos dos profissionais da saúde, exaustos, chorando, pedindo socorro, e me compadecia com a coragem que vocês têm de seguir em frente, muitas vezes arriscando a própria vida para salvar pessoas que nunca se importaram com a pandemia ou com a dor alheia. Também sou a favor da terapia e dos remédios quando necessário, claro que o melhor é tentar evitar os remédios, mas há casos que é necessário sim. Eu mesma, achei que pela primeira vez, teria que ir em algum psicólogo ou até mesmo psiquiatra, pois não estava bem há alguns meses, mas o que começou a me preocupar, era o sentimento de indiferença que começou a reinar dentro de mim, de que até que não seria ruim se eu morresse. Eu nunca na vida tive pensamentos desse tipo, nem nos meus piores dias. Mas aos poucos esses dias sombrios têm ficado para trás, o medo continua, claro, e a surpresa de a cada momento descobrir como as pessoas são individualistas ainda me machuca, mas assim como você escreveu, há pessoas maravilhosas à nossa volta, como nossos maridos, que apesar de todas as dificuldades que enfrentamos na vida, estão sempre com a gente. É para essas pessoas que entregamos e confiamos nossa vida. Um beijo, espero que você fique bem também.

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